"Construtor de pontes entre o Ocidente e a África": era assim que o saxofonista Manu Dibango, a primeira personalidade do mundo a morrer, aos 86 anos, vítima do coronavírus, se descrevia
"Construtor de pontes entre o Ocidente e a África": era assim que o saxofonista Manu Dibango, a primeira personalidade do mundo a morrer, aos 86 anos, vítima do coronavírus, se descrevia.
Figura do afro-jazz, tornou-se famoso com seu hit "Soul Makossa".
"Tenho a harmonia de Bach e de Handel no meu ouvido com as letras camaronesas. É uma riqueza poder ter pelo menos duas possibilidades. Na vida, prefiro ser estéreo do que mono", disse ele em entrevista à AFP em agosto de 2019, pontuando suas respostas com riso estrondoso e comunicativo.
"Seu legado, imenso, permanecerá. Sua criatividade era genial. Fazia as pessoas dançarem, com eficiência formidável", comentou à AFP Martin Meissonnier, DJ e produtor, "arrasado com sua morte".
O cantor Youssou Ndour tuitou sua "tristeza": "Você foi um irmão mais velho, um orgulho para Camarões e para toda a África".
"O mundo da música perde uma de suas lendas", lamentou nas redes sociais o ministro da Cultura francês, Franck Riester.
Mas a jornada desse homem em nada predestinava uma carreira artística.
Emmanuel N"Djoké Dibango nasceu em 12 de dezembro de 1933 em Douala (Camarões), em uma família protestante e muito rigorosa.
"Meu tio paterno tocava órgão, minha mãe conduzia o coral. Fui uma criança criada nos "Alleluia". Ainda assim, sou africano, camaronês e tudo mais", confidenciou à AFP.
Seu pai, funcionário público, o enviou à França aos 15 anos, na esperança de torná-lo engenheiro ou médico.
Após 21 dias de viagem de navio, Manu Dibango desembarcou em Marselha e seguiu para Saint-Calais, em Sarthe. Na bagagem, "três quilos de café" - uma mercadoria rara no pós-guerra e título de sua autobiografia - para pagar a família que o acolheu. Depois, estudou em Chartres, onde deu seus primeiros passos musicais no bandolim e no piano.
Nesse universo branco, o adolescente que "não conhecia a cultura africana" se identificou com as estrelas afro-americanas da época. Cont Basie, Duke Ellington e Charlie Parker se tornaram seus "heróis".
"Papa Manu" descobriu o saxofone durante um acampamento de verão. Arrastando os estudos, fracassou na segunda parte do seu bacharelado. Seu pai, insatisfeito, interrompeu o envio de dinheiro em 1956.
Ele então partiu para Bruxelas, onde passou a tocar nos mais diferentes locais. "Na minha época, tinha que tocar em cabarés, bailes, circos. Tocar com um acordeonista como André Verchuren garantia algumas datas", contou.