INTERNACIONAL

Memória da guerra, a nova frente de batalha entre Rússia e Ocidente

Com trocas de acusações de "conspiração", "cinismo", "falsificações", a Rússia e o Ocidente travam uma guerra verbal sobre as responsabilidades na Segunda Guerra Mundial, uma frente de batalha da memória histórica que o presidente Vladimir Putin leva muito a sério

AFP
23/06/2020 às 10:03.
Atualizado em 27/03/2022 às 16:06

Com trocas de acusações de "conspiração", "cinismo", "falsificações", a Rússia e o Ocidente travam uma guerra verbal sobre as responsabilidades na Segunda Guerra Mundial, uma frente de batalha da memória histórica que o presidente Vladimir Putin leva muito a sério.

A vitória soviética sobre a Alemanha nazista, que será comemorada na quarta-feira com grande pompa e com um mês de atraso devido à pandemia de coronavírus, sempre foi um dos pilares do patriotismo que o presidente russo defende. E o grande desfile militar que acompanha a celebração é um símbolo do retorno de Moscou aos holofotes internacionais.

À medida que as relações russo-europeias se deterioravam devido às guerras na Ucrânia e na Síria, acusações de espionagem ou interferências, um abismo se abriu em relação à interpretação dos eventos do século passado. Agora, cada campo acusa o outro de "reescrever a história" a seu favor.

Nos meses que antecederam a pandemia, Vladimir Putin parecia quase obcecado pela memória da "Grande Guerra Patriótica", como os russos chamam de conflito germânico-soviético.

"Somos obrigados a defender a verdade sobre a vitória. Se não, o que diríamos a nossos filhos caso a mentira se espalhasse pelo mundo como uma praga?", disse Putin no Parlamento em janeiro.

Em sua último declaração, Putin acusou os ocidentais de "revisionismo" anti-Rússia em 18 de junho, em uma longa coluna publicada em uma revista americana.

"Para Putin, a questão da guerra é a base de sua ideia nacional de renascimento russo, de poder forte, de recuperação do país", diz o historiador Vitali Dymarski, que enfatiza que esta memória também reforça a imagem de uma pátria cercada por seus inimigos.

A convicção resultou em pequenos atritos diplomáticos com a União Europeia e ex-satélites, Polônia e Ucrânia em particular, com quem Moscou mantém péssimas relações.

Putin denunciou o "cinismo incrível" da Polônia, que acusa a Rússia de ter concluído um "pacto" com Hitler no início da guerra.

O primeiro-ministro polonês respondeu, denunciando os "absurdos" russos.

Vladimir Putin também reagiu com raiva a uma resolução do Parlamento Europeu em setembro que condena a divisão da Polônia entre a URSS e a Alemanha, considerando-a como uma tentativa de colocar o comunismo e o nazismo no mesmo plano.

De fato, a Europa insiste em denunciar o pacto germânico-soviético de 1939, que organizou a divisão da Europa Oriental entre os dois regimes totalitários. Mas, para Moscou, era uma necessidade, uma vez que as potências europeias deixaram a URSS "sozinha contra a Alemanha" quando, em 1938, cederam a Hitler parte da Tchecoslováquia.

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