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Montenegro tem eleições em ambiente tenso por disputa com Igreja

A população de Montenegro vota, neste domingo (30), em eleições legislativas que põem à prova três décadas de governo do partido do presidente pró-Ocidente, Milo Djukanovic, que enfrenta uma oposição apoiada pela poderosa Igreja Ortodoxa sérvia

AFP
30/08/2020 às 14:04.
Atualizado em 25/03/2022 às 11:45

A população de Montenegro vota, neste domingo (30), em eleições legislativas que põem à prova três décadas de governo do partido do presidente pró-Ocidente, Milo Djukanovic, que enfrenta uma oposição apoiada pela poderosa Igreja Ortodoxa sérvia.

Djukanovic, de 58 anos, comanda Montenegro quase ininterruptamente desde o fim da era comunista, no início dos anos 1990. Sua sigla, o Partido Democrático dos Socialistas (DPS), nunca perdeu uma eleição.

Ele liderou o país menos populoso dos Bálcãs (de 620.000 habitantes) à independência da Sérvia, em 2006; à OTAN, em 2017; e às portas da União Europeia (UE). Alguns o consideram um reformador dinâmico, outros, um autocrata corrupto.

Agora, o confronto nas urnas com uma oposição de direita pró-Sérvia, em favor do fortalecimento dos laços com Belgrado e com Moscou, parece difícil. No Parlamento que encerra a legislatura atual, ele já conta com uma escassa maioria.

Há tempos, Djukanovic enfrenta acusações de corrupção, de controle do Estado e de ligações com o crime organizado, mas a campanha eleitoral acabou se concentrando em outras questões: sua disputa com a Igreja Ortodoxa Sérvia (SPC) e debates sobre identidade.

A disputa eclodiu no final de 2019, com a adoção de uma lei de liberdade religiosa que abre caminho para que o Estado assuma o controle de centenas de igrejas e mosteiros administrados pela Igreja Ortodoxa sérvia. Maioria em Montenegro, sua sede é em Belgrado.

De acordo com o censo de 2011, quase 30% dos habitantes do país se declaram sérvios.

A aprovação da lei levou a manifestações em massa em forma de procissão, lideradas por autoridades religiosas e apoiadas pela oposição.

Durante a campanha, o arcebispo Amfilohije, chefe da Igreja Ortodoxa sérvia de Montenegro, declarou na semana passada que a instituição "não tem partido", mas "naturalmente opta por aqueles que estão contra esta lei e defendem os lugares sagrados".

Djukanovic considerou isso uma "ameaça à soberania" e chamou a oposição de "infantaria política do grande nacionalismo sérvio".

Depois de votar, neste domingo, o presidente disse estar confiante em que sua legenda manterá a maioria, apesar das "tentativas, de fora de Montenegro, de gerar tensão".

A polícia advertiu para possíveis incidentes neste dia eleitoral, alegando ter descoberto planos de grupos para "irem às ruas a fim de causar distúrbios e perturbar a ordem pública".

O alerta lembra as eleições legislativas de 2016, marcadas pela prisão de cerca de 20 ativistas que se opunham à adesão do país à OTAN. Eles foram acusados de planejar um golpe com o apoio da Rússia. Moscou negou à época.

A expectativa é de um resultado apertado entre os dois blocos. Diante disso, vários partidos "nanicos" poderão ter um papel decisivo na formação do novo governo, avalia o analista Milos Besic.

O Montenegro é o país dos Bálcãs mais avançado nas negociações para aderir ao bloco europeu, mas a corrupção, a liberdade de imprensa e o crime organizado continuam a preocupar Bruxelas.

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