INTERNACIONAL

Na OMS, a epidemiologista Maria Van Kerkhove está no centro da tempestade de covid-19

Maria Van Kerkhove passava o Natal na casa da irmã nos Estados Unidos quando foi alertada sobre uma infecção pulmonar misteriosa na China

AFP
15/10/2020 às 12:26.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:36

Maria Van Kerkhove passava o Natal na casa da irmã nos Estados Unidos quando foi alertada sobre uma infecção pulmonar misteriosa na China.

Em nove meses, o foco se transformou na pandemia mais grave do último século e a cientista americana de 43 anos, especializada nos agentes patógenos mais letais, se tornou um dos rostos mais conhecidos da luta contra a covid-19.

Em uma entrevista exclusiva à AFP, a coordenadora da gestão da pandemia na Organização Mundial da Saúde adverte: "Está longe de acabar".

"Acredito que pode assustar, mas penso que as pessoas devem estar mentalmente preparadas e ter paciência. Isto vai continuar entre nós durante algum tempo", explica, com voz pausada.

Desde que recebeu o primeiro alerta e respondeu a ligações urgentes às três da manhã "sentada no chão" da sala de sua irmã, enquanto o marido e os dois filhos dormiam, o SARS-CoV-2 se propagou por todo o mundo e matou mais de um milhão de pessoas.

A cientista, formada em duas grandes universidades americanas - Cornell e Stanford - e na prestigiosa London School of Hygiene and Tropical Medicine, expressa o "imenso orgulho" de integrar a equipe da OMS que luta contra a pandemia.

Van Kerkhove explica sentir-se "motivada pelo fato de que sabemos muito mais sobre este vírus e como combatê-lo do que sabíamos há uma semana ou um mês".

Mas não esconde alguns temores. "A falta de cuidado, o cansaço, a frustração e a divisão" que surgem em alguns países podem jogar por terra todos os avanços.

"Vemos divergências na luta (contra a doença), divergências na ciência e vemos desacordos políticos que tornam esta situação, que já é complexa, ainda mais difícil", lamenta.

A cientista, que publicou estudos em revistas de grande prestígio, leva muito a sério seu papel para explicar sinceramente o que a OMS sabe e o que não sabe sobre a doença, desconhecida até o fim de 2019.

"Estamos aqui para ajudar", destaca, "mas nem sempre conseguimos". Ela recorda o que aconteceu em junho depois que um comentário "foi retirado de contexto".

Na ocasião, Van Kerkhove tentava explicar em uma entrevista coletiva que as pessoas que não desenvolvem sintomas da covid-19 pareciam transmitir o vírus apenas raramente, mas seu comentário foi interpretado como se pessoas pré-sintomáticas, que mais tarde desenvolvem sintomas, não são contagiosas.

Rapidamente algumas pessoas afirmaram "não é grave, abram nossas sociedades", recorda Van Kerkhove.

"Este tipo de coisa realmente me chateia por que eu sei que o que nós falamos importa", explica.

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