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Na terra de Dom Quixote, o coronavírus aterroriza povoado

Ao deixar o cemitério de Tomelloso, o padre tira as luvas depois de cinco enterros em uma manhã. Neste povoado espanhol muito afetado pelo coronavírus, as autoridades pararam de publicar obituários e cada um imagina o pior

AFP
11/04/2020 às 10:18.
Atualizado em 31/03/2022 às 04:15

Ao deixar o cemitério de Tomelloso, o padre tira as luvas depois de cinco enterros em uma manhã. Neste povoado espanhol muito afetado pelo coronavírus, as autoridades pararam de publicar obituários e cada um imagina o pior.

Antes da epidemia, Tomelloso era um tranquilo município vitícola de 36.000 habitantes, no meio do extenso planalto da região de Castilla-La Mancha, incluído na rota turística dos moinhos contra os quais Dom Quixote lutou.

A 190 km de Madri, suas ruas lotavam no final de abril com carroças lindamente decoradas e fanfarras para a festa da Virgen de las Viñas, cancelada este ano.

Agora, o povoado está de luto: somente em março, 104 moradores morreram por causa do coronavírus, segundo a prefeita, Inmaculada Jiménez.

"Dirijo-me a vocês com a dor (...) que todos sentimos por causa da dureza com que esse vírus está se espalhando entre o nosso povo", disse a prefeita de 38 anos, confinada em casa com seu recém-nascido.

"Hoje, temos apenas cinco enterros, mas atingimos 10 ou 12 por dia", explicou um funcionário do cemitério na quarta-feira.

Naquele dia, Jesús, de 80 anos, foi sepultado sem flores ou família. Somente o padre e três funcionários cercaram o caixão para uma rápida bênção.

Para o funeral de Aquilino, um ex-motorista de ônibus de 88 anos que morreu em um lar de idosos, apenas três pessoas vieram, o limite permitido pelo governo diante de uma epidemia que causou quase 16.000 mortes no país.

"Tinha quatro filhos, mas só eu consegui vir", diz Ana Alcolea, de 51 anos. "Os outros três estão em Barcelona, dois com coronavírus e um trabalhando em um hospital", acrescenta.

Para ela, não é fácil "assimilar a situação". Ela não viu o pai durante o último mês de vida - exceto em raras videochamadas feitas por enfermeiras - e não pode velá-lo depois de falecido.

O município não publica mais obituários ou notifica as mortes, diz Alcolea. Ela suspeita que o saldo seja muito maior do que o oficial, com 99 pacientes internados no município e muitos outros confinados em suas casas.

O chefe de gabinete da prefeitura, José Eugenio Gómez, lamenta que a imprensa os "estigmatize" como "a Wuhan de La Mancha".

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