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Nuremberg preserva edifícios nazistas para não esquecer a barbárie

A discussão é recorrente na Alemanha. É preciso preservar edifícios nazistas, símbolos da ideologia hitleriana? A cidade de Nuremberg decidiu empreender um projeto de conservação para que a memória histórica não caia no esquecimento

AFP
13/11/2020 às 07:28.
Atualizado em 24/03/2022 às 01:05

A discussão é recorrente na Alemanha. É preciso preservar edifícios nazistas, símbolos da ideologia hitleriana? A cidade de Nuremberg decidiu empreender um projeto de conservação para que a memória histórica não caia no esquecimento.

No total, 85 milhões de euros (99 milhões de dólares) serão injetados nos próximos anos para manter de pé os edifícios deteriorados com o passar do tempo e contar, assim, sua história vergonhosa.

"Aqui começou tudo. A destruição, a exclusão e, em última instância, o Holocausto", que custou a vida de 6 milhões de judeus, diz Julia Lehner, encarregada da cultura da cidade bávara, em entrevista com a AFP, em alusão à sede do Congresso do Partido Nacional-socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).

Da tribuna do campo Zeppelin, inspirada no templo grego de Pérgamo, Adolf Hitler pronunciava seus discursos racistas diante de meio milhão de membros do partido, reunidos todo mês de setembro, assim como de tantos outros entusiastas alemães, procedentes de várias partes do país para assistir aos desfiles.

Perto dali, outro colosso com ares de coliseu romano: o Palácio dos Congressos. Inacabado, é o segundo maior edifício nazista na Alemanha, atrás do complexo de lazer de Prora, na ilha de Rugen.

Esta "monumentalidade" pretendia "intimidar e fascinar", assim como "demonstrar a superioridade da ideologia nazista", lembra o historiador Wolfgang Benz.

O local foi concebido em grande parte pelo arquiteto Albert Speer em 11 quilômetros quadrados nesta cidade que Hitler elegeu como epicentro de sua propaganda, lembra Lehner. Foi aqui que foram promulgadas as leis antijudaicas de 1935.

É por isso, também, que os aliados escolheram Nuremberg para levar ao banco dos réus, a partir de novembro de 1945, os dirigentes do regime durante o histórico julgamento que este ano celebra seu 75º aniversário.

Este legado é, há tempos, um peso para a cidade. "Logo depois da guerra, teríamos preferido cobri-lo com o manto do esquecimento", admite Lehner.

"O conflito continua o mesmo: um edifício pode se tornar local de culto para os neonazistas? Se a resposta for sim, então deve-se destruí-lo", diz Benz. Foi o que ocorreu com o búnquer de Hitler em Berlim.

Nuremberg tem atraído em algumas ocasiões nostálgicos do Terceiro Reich. Há um ano, um punhado deles organizou uma marcha contra a acolhida de migrantes. Mas os incidentes são raros, afirmam as autoridades.

Depois da guerra, só a imensa suástica que dominava a tribuna foi dinamitada pelos americanos. Em 1973, o local foi classificado como monumento histórico pelas autoridades bávaras, o que implica no dever da cidade em preservá-lo para informar as gerações futuras.

Uma boa decisão, avalia Florian Dierl, diretor do centro de documentação, que apresenta a exposição "Fascínio e Violência", instalada no local desde 1984.

É que a memória histórica da época nazista implica em compreender porque "os alemães permaneceram fiéis ao regime todos esses anos", diz. "Ao vir aqui, a gente pode ter uma ideia do poder de atração que exerceu a noção de uma comunidade nacional-socialista para a população", explica Dierl.

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