INTERNACIONAL

O bairro dos mortos, deprimido pela pandemia no Equador

O grande cemitério equatoriano de Pascuales e o bairro vizinho desta necrópole, nos arredores de Guayaquil, encheu por causa da pandemia, em um local que se tornou acostumado a testemunhar a passagem dos agora proibidos cortejos fúnebres

AFP
29/05/2020 às 14:05.
Atualizado em 27/03/2022 às 22:08

O grande cemitério equatoriano de Pascuales e o bairro vizinho desta necrópole, nos arredores de Guayaquil, encheu por causa da pandemia, em um local que se tornou acostumado a testemunhar a passagem dos agora proibidos cortejos fúnebres.

Até alguns meses as marchas fúnebres - hoje proibidas assim como os velórios - eram comuns no bairro de Carlos Guevara Moreno, em Guayaquil, uma das cidades mais atingidas pela COVID-19 na América Latina.

À tarde, chegavam os cortejos rumo ao cemitério que, por causa da pandemia, foram suspensos e se tornaram apenas um triste lembrete da pior crise da saúde em décadas.

Segundo a dona de casa Cristina Paredes, de 50 anos, antes da tragédia gostava de sair até a porta de sua casa para ver os parentes e músicos que cantavam enquanto as caravanas passavam.

"Se havia muita gente, sabíamos que o morto era querido", lembra a moradora.

Como em outras partes da América Latina, o continente com a maior concentração de católicos do mundo, aqui a morte é um rito social que começa nas casas com a vigília e termina em uma movimentada procissão no cemitério.

No entanto, o coronavírus acabou com o comércio de flores e alimentos neste pequeno bairro que conta com cerca de 35 casas e 200 habitantes, fronteiriço do cemitério.

Pedro Ortega, 54 anos, que dirige um triciclo, muito popular nesta área onde ainda há casas de madeira, lembra outra Pascuales, a cidade à qual o bairro pertence.

"Nos fins de semana, a rua estava cheia de piscinas infláveis para diminuir o calor" em meio aos cortejos fúnebres, lembra Ortega.

Mas desde 9 de abril, quase um mês após a pandemia ter sido declarada, o cenário mudou drasticamente.

Naquela noite, havia chegado ao cemitério o primeiro caminhão com vítimas do vírus.

Chegaram em caixões de papelão, que substituíram os de madeira por causa da alta demanda. O caminhão deixou um rastro de água e sangue. O fedor da morte, que ainda permanece à noite quando o vento sopra mais forte, assustou os moradores.

"Somos nós que estamos aqui dia e noite. Você não pode nem sair para respirar porque o cheiro entra", lamenta Paredes.

Os militares acabaram cercando o cemitério com cercas de metal.

Com 2,7 milhões de habitantes, Guayaquil sofreu com o descontrole inicial relacionada à pandemia, com o colapso dos hospitais, as casas funerárias que não capacidade de lidar com a demanda e as famílias que tiveram que esperar dias com os mortos em suas casas.

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