INTERNACIONAL

O discreto fim da Operação Lava Jato

A operação anticorrupção Lava Jato, que abalou o Brasil e prendeu políticos, empresários e personalidades em toda a América Latina, foi encerrada discretamente nesta semana e com suas próprias investigações sob suspeita

AFP
06/02/2021 às 12:11.
Atualizado em 23/03/2022 às 20:30

A operação anticorrupção Lava Jato, que abalou o Brasil e prendeu políticos, empresários e personalidades em toda a América Latina, foi encerrada discretamente nesta semana e com suas próprias investigações sob suspeita.

A Lava Jato começou em 2014 com uma investigação de lavagem de dinheiro em um posto de gasolina em Brasília.

Ligando os pontos - e recorrendo a métodos como a delação premiada - os investigadores descobriram uma ramificada rede de propinas pagas por grandes construtoras como a Odebrecht a políticos de quase todos os partidos, para obter contratos com a estatal Petrobras.

Suas principais figuras, o ex-juiz de primeira instância Sergio Moro e os procuradores de Curitiba foram vistos como super-heróis por grande parte dos brasileiros e inspiraram um filme e uma série da Netflix.

Em quase sete anos, o balanço é de 174 condenados no Brasil e 12 presidentes e ex-presidentes envolvidos na América Latina, entre eles o líder do PT Luiz Inácio Lula da Silva.

As ações também permitiram que os cofres públicos recuperassem 4,3 bilhões de reais e outros 15 bilhões estão a caminho.

Mas, nos últimos tempos, a Lava Jato perdeu o brilho e a Procuradoria-Geral da República anunciou na quarta-feira a dissolução do seu núcleo original, sem provocar grandes reações.

Ironicamente, a medida foi tomada sob a presidência de Jair Bolsonaro, o líder da extrema-direita que soube aproveitar a onda antissistema provocada pela operação para vencer as eleições de outubro de 2018.

"O político que mais se beneficiou da investigação anticorrupção cravou o último prego em seu caixão", disse o sociólogo Celso Rocha de Barros em artigo publicado no Americas Quarterly.

Bolsonaro vangloriou-se em outubro de ter promovido sua ruptura final. "Acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo", explicou.

A declaração foi rapidamente questionada: uma semana depois, a polícia encontrou cerca de 30.000 reais na cueca do vice-líder da bancada do governo no Senado, Chico Rodrigues, durante uma operação por suposto desvio de recursos para combater a pandemia de covid-19 .

Bolsonaro, com membros de sua família e círculo sob investigação em casos de corrupção e cerca de 60 pedidos de impeachment contra ele, mostrou menos fervor na luta contra a corrupção como presidente do que como candidato.

Ele se cercou de forças políticas que jurou combater, o "centrão", que tem muitos dos seus líderes na mira da Lava Jato.

Dois dias após o anúncio do fim da operação, seus novos aliados conquistaram as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado.

Com essa postura, o presidente espera um relacionamento tranquilo com o Legislativo, sem ameaças de impeachment e com vistas à reeleição em 2022.

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