Bicentenário da Independência

O significado do dia 7 de Setembro

Desde o distante ano de 1822, o Brasil é um Estado independente em busca de dias melhores

José Ricardo Ferreira
11/09/2022 às 11:33.
Atualizado em 11/09/2022 às 11:35

Érica, diretora do Museu Prudente de Moraes: significados históricos (Divulgação)

O bicentenário da independência do Brasil é também um momento para reflexões. Desde setembro de 1822, o país é um Estado independente e livre para crescer e se estruturar como uma nação. Diante disso, a Gazeta perguntou aos entrevistados: para você, qual o significado da Independência? As respostas trouxeram desde análises curtas e diretas a até pensamentos mais elaborados. Democracia, globalização, ética, política, economia e pobreza foram assuntos citados pela maioria das pessoas ouvidas pela reportagem.

"Há exatos 200 anos, no dia 7 de setembro, às margens de um riacho (e não de um rio) do Ipiranga, o famoso brado de "Independência ou Morte" foi dado por Dom Pedro de Alcântara, príncipe herdeiro do rei Dom João VI, rompendo os laços políticos que uniam o Brasil a sua antiga metrópole, Portugal.

Apesar de esconder algumas contradições, como a forte dependência econômica que nos foi imposta e a falta de liberdade da população negra escravizada, essa data deve ser comemorada, pois foi um passo importante na busca pela formação de uma nação independente e soberana e de um povo que pode se orgulhar em dizer que é brasileiro", explica o professor de História, docente no Colégio Piracicabano, Paulo Alberto Balbino da Costa.

O eletricista Sílvio Ribeiro da Silva diz que um país independente é aquele que é responsável pelas próprias ações. "Particularmente eu penso que independência é a conquista do poder de decisão sobre o futuro da nação. Porém, é mais explícita somente a independência política, pois, em outras áreas, a independência é muito difícil de conquistar", disse ele numa alusão a outras situações do cotidiano de um cidadão trabalhador, como a financeira, por exemplo.

Para a psicóloga clínica Maria Carolina Vitti Stenico, são 200 anos em que o país tem encontrado dificuldades para resolver seus problemas internos. "Vejo e sinto que nosso Brasil desde a sua independência caminha a passos de tartaruga na conquista de sua autonomia. Somos um país poderoso e com toda potência para se tornar independente. Portanto, para isso, não precisamos depender apenas de quem administra o país. Aliás, esse comportamento de dependência provoca certo comodismo", explica a psicóloga.

Para o autônomo Ronaldo Bueno dos Santos, se descolar de Portugal há 200 anos merece muitos questionamentos. "Independência para quem? Depois de declarar independência de Portugal, nos tornamos dependentes do tal mercado, de regras que muitas vezes são impostas pelo tal sistema, enfim, independência para quem?", pergunta ele.

Para a gestora de projetos humanitários, Ana Lúcia Amstalden o Dia da Independência merece reflexões sobre assuntos como justiça social. "O dia 7 de setembro representa para mim um dia de luta pela liberdade do nosso povo. A independência do Brasil é construída a cada dia, fortalecendo a democracia. É uma busca incessante por uma educação digna, pelas famílias que lutam por trabalho, pela igualdade social, por um país que as pessoas não sintam a dor da miséria e a dor da fome", explicou. 

O cinema

"Neste mês de setembro, em que comemoramos dois séculos de Independência do Brasil, é grande a busca por arquivos históricos para recontar trechos significativos da história de nosso país. Entre documentos, artigos, ilustrações e iconografia diversa, temos o cinema nacional como um dos instrumentos de registro dessa memória, seja por meio de filmes de uma vertente mais documental, que sustentam uma visão oficializada da independência, e os quais são utilizados para fins didáticos, ilustrativos ou comemorativos; seja com obras mais ficcionais, que apresentam releituras livremente inspiradas, só como a arte pode permitir", explica a professora Ana Camilla de Negri Kantovitz, titular do curso de Cinema e Audiovisual da Unimep.

A professora ainda diz sobre a importância de o brasileiro fazer seus projetos. "Se estamos olhando para trás na história, revendo o que ela foi, o mais interessante é mudar a perspectiva e olhar para frente, pensando que a cada novo 7 de setembro a ser comemorado, nasce uma nova oportunidade de se interpretar os fatos e começar a construir uma nova história. E sem dúvida, o cinema nacional é uma boa ferramenta para discutir e ampliar as ideias sobre uma real independência", disse ela.

Mentes e corações

Érica Fernanda Stocco Frasson é diretora do Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, em Piracicaba. Para se ter uma ideia da relevância desse museu, Prudente, em 1894, décadas após a independência, tornou-se o primeiro presidente do Brasil a ser eleito pelo voto direto e o primeiro presidente civil do país. 

A diretora reforça a importância de se analisar e viver a história de nosso país. "A comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil, sucedida em 7 de setembro de 1822, tem um significado muito representativo na trajetória daqueles destacados heróis da pátria", explicou. Érica frisa que a data é um culto à memória de um acontecimento ímpar: a nossa independência. 

"Essa data carrega muitos significados históricos, culturais e políticos, sendo o marco do nascimento da nação, quando o país deixou de ser colônia de Portugal e iniciou seu processo de República. A celebração da Semana da Pátria é o momento propício para acender nas mentes e corações a vontade de conhecer um pouco mais sobre o seu país de origem e explorar um pouco mais a sua própria cultura. Não somente na Semana da Pátria, mas sempre, queremos despertar o sentimento de patriotismo para formar futuros cidadãos comprometidos com uma sociedade mais justa e fraterna. Ame seu povo, sua morada e natureza. Ensinando desde cedo o amor à nação", declarou a diretora do museu.

Pilares da democracia

É importante ressaltar que em um primeiro momento, a independência trouxe liberdade política, porém, nem tanto financeira ao Brasil, segundo diz a história. Portugal tinha muita dependência com a Inglaterra que continuou com vantagens sobre a vida econômica do Brasil durante todo o Império.

O professor de Economia, na Unimep, José Luiz Rampazo Filho, docente do curso de administração da universidade, frisa que ainda há muito a fazer pelo desenvolvimento do país. "E isso não se restringe a esfera econômica. O Brasil precisa melhorar os indicadores sociais no tocante a saúde, segurança, educação e saneamento básico, incrementar ainda mais o setor de infraestrutura de transporte envolvendo ferrovias, portos, aeroportos, hidrovias, rodovias, com isso minimizando o efeito do custo-Brasil", apontou o professor.

Ele ressaltou ainda a importância de se ter uma democracia plena e consolidada, onde os Três Poderes e as demais instituições convivam em harmonia, com independência e em convergência.

José Luiz salienta, porém, que comemorar a independência é muito importante, pois marcou o início da trajetória de uma nação que sempre se notabilizou por um colossal potencial em recursos naturais e pela capacidade criativa e laboral do seu povo. "E nesses 200 anos, de país-colônia a Estado independente, de Governo Imperial a República democrática, de terceiro mundo a economia emergente, o Brasil se consolidou como um dos principais protagonistas mundiais seja nos campos da política externa, do conhecimento, do agronegócio, do empreendedorismo, da saúde, entre outros", declarou o professor.

Para, Igor Vasconcelos Nogueira, economista e professor da área de gestão do IFSP (Instituto Federal de São Paulo - câmpus de Capivari), o significado da independência do Brasil vai muito além da liberdade ou autonomia administrativa da nação. "A independência do Brasil representou uma ruptura de subserviência a Portugal, com possibilidade de sermos uma nação livre, capaz de escrever sua própria história e promover ao seu povo o ponto de partida para a tríade dos pilares da democracia: liberdade, igualdade, fraternidade", analisou ele.

O economista e professor Francisco Crocomo (docente da EEP - Escola de Engenharia de Piracicaba -, e Da Fatep - Faculdade de Tecnologia de Piracicaba), observa várias conjunturas para uma real independência. "Uma nação só atinge independência quando banir a desigualdade social, investir fortemente na educação, ciência e cultura. Priorizar a ciência para a saúde. Banir ódio e armas. Ser solidária com a humanidade, no acolhimento aos povos sofridos e necessitados. Tratar do Planeta Terra com carinho e cuidado. Respeitar os povos originários. Compreender a diversidade de gênero, raça, cor, cultura, religiões e crenças. Praticar e defender a paz mundial. Eliminar todas as formas de preconceito. Observar e ouvir as crianças. Esperamos que não sejam necessários mais 200 anos para que essas ações se realizem", declarou Crocomo.

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