INTERNACIONAL

O visto, a 'arma' da China contra a imprensa

O governo chinês está usando vistos de trabalho como uma "arma" contra a imprensa internacional, acusou nesta segunda-feira (2) o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC), que afirmou temer novas expulsões de jornalistas

AFP
02/03/2020 às 11:07.
Atualizado em 07/04/2022 às 09:05

O governo chinês está usando vistos de trabalho como uma "arma" contra a imprensa internacional, acusou nesta segunda-feira (2) o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China (FCCC), que afirmou temer novas expulsões de jornalistas.

Em seu relatório anual sobre a liberdade de imprensa, o clube lembra que um repórter teve que deixar a China em 2019 porque sua permissão de trabalho não havia sido renovada.

Chun Han Wong, de Singapura, foi expulso de fato em agosto depois de ter escrito um artigo sobre um primo do presidente Xi Jinping para o jornal americano Wall Street Journal (WSJ).

Três outros jornalistas do WSJ foram expulsos na semana passada em retaliação a um editorial do veículo de negócios que desagradou Pequim.

"As autoridades chinesas estão usando os vistos como uma arma contra a imprensa estrangeira, como nunca fizeram antes", denunciou a associação profissional.

Enquanto a duração normal de uma credencial de imprensa - que funciona como uma permissão de trabalho renovável a cada ano - era geralmente de um ano, Pequim emitiu no ano passado um número recorde de permissões "truncadas", com duração de seis ou até de três meses.

Procurado para reagir à denúncia, um porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, disse que Pequim não reconhece o FCCC e lembrou que mais de 600 jornalistas estrangeiros estão acreditados no país.

"Desde que respeitem as leis chinesas e trabalhem de acordo com a legislação e regulamentações, eles não precisam se preocupar", afirmou Zhao.

No ano passado, pelo menos 12 jornalistas receberam permissões com duração de seis meses ou menos. Entre os meios de comunicação envolvidos: The New York Times, The Wall Street Journal, BBC, The Telegraph, The Globe and Mail, Le Monde, Sankei Shimbun e The Voice of America.

O clube disse temer que a China "esteja se preparando para expulsar outros jornalistas: desde o início de 2020, dois correspondentes receberam vistos de um mês".

Desde 2013, logo após Xi Jinping chegar ao poder, nove jornalistas estrangeiros foram expulsos, ou no término de seu visto de trabalho, ou mesmo quando ainda era válido, de acordo com o estudo, ao qual responderam 114 jornalistas membros do FCCC, de um total de 186.

Entre os resultados da pesquisa, 55% dos jornalistas estrangeiros disseram que suas condições de trabalho haviam piorado no ano passado.

Nada menos que 82% deles afirmaram ter sido vítimas de interferência, assédio e até violência pelas autoridades durante seu trabalho.

E 70% disseram ter tido uma entrevista cancelada com um interlocutor devido a uma intervenção das autoridades.

bar/sbr/ia/mr

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