Ao menos 11 manifestantes pró-democracia morreram nesta segunda-feira (15) em Mianmar, onde a junta militar bloqueou as redes de dados móveis, o que obrigou a Justiça a adiar uma audiência telemática da ex-líder Aung San Suu Kyi
Ao menos 11 manifestantes pró-democracia morreram nesta segunda-feira (15) em Mianmar, onde a junta militar bloqueou as redes de dados móveis, o que obrigou a Justiça a adiar uma audiência telemática da ex-líder Aung San Suu Kyi.
Esses manifestantes morreram em várias cidades das regiões centrais do país. Segundo testemunhas, os militares voltaram a usar munição real contra os protestos.
"Dois homens morreram por disparos e outros seis ficaram feridos", disse à AFP uma testemunha em Aunglan, na região de Magway, afirmando que um deles recebeu um tiro no peito.
"Estava bem do meu lado. O outro recebeu um tiro na cabeça", acrescentou.
Nos protestos de Myingyan (centro), seis pessoas também morreram, "três delas por disparos, incluindo uma mulher", disse um morador da cidade.
Outro manifestante morreu em Monywa, informou a imprensa estatal, e outros dois homens de cerca de 20 anos em Mandalay, segundo um médico e um jornalista da AFP.
Ontem (14), pelo menos 44 manifestantes pró-democracia já haviam sido mortos em ações das forças de segurança. No total, mais de 120 pessoas perderam a vida em circunstâncias similares nas últimas seis semanas, segundo a ONG de assistência aos presos políticos AAPP.
No domingo, a tensão foi especialmente forte em Hlaing Tharyar, um subúrbio industrial de Yangon, onde um grupo de assaltantes incendiou várias fábricas chinesas e 22 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança.
Após os confrontos, a junta decretou a lei marcial em seis distritos de Yangon, Hlaing Tharyar e Shwepyitha. Cada pessoa detida nos subúrbios será julgada por um tribunal militar e enfrenta ao menos três anos de trabalhos forçados.
O ressentimento contra a China se intensificou nas últimas semanas no país porque muitos pensam que Pequim, um grande investidor em Mianmar, tem uma posição muito indulgente com os militares golpistas.
Na segunda-feira, a China se declarou "muito preocupada" com a segurança de seus cidadãos em Mianmar e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, pediu às autoridades birmanesas para tomar medidas para "evitar decididamente que esses incidentes se reproduam".
A AAPP contabiliza mais de 2.000 detidos desde o golpe de Estado, incluindo Auung San Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz em 1991, líder de fato do governo birmanês até janeiro. Ela segue presa em um local secreto.
Suu Kyi, de 75 anos, deveria comparecer nesta segunda-feira à Justiça por videoconferência. A audiência foi adiada por falta de conexão com a Internet e remarcada para 24 de março, informou à AFP seu advogado Khin Maung Zaw.
Suu Kyi foi acusada de pelo menos quatro crimes: importação ilegal de walkie-talkies, não cumprimento das restrições relacionadas com o coronavírus, violação de uma lei sobre telecomunicações e incitação a distúrbios públicos.
A junta militar também a acusa de corrupção, ao afirmar que ela recebeu 600.000 dólares e mais de 11 quilos de ouro de subornos.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU denunciou perseguições, mortes, desaparecimentos forçados, torturas e prováveis "crimes contra a humanidade" executados pelo Exército.