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Os erros que prolongam a pandemia no México

Enquanto alguns países se preparam para uma possível segunda onda de COVID-19, a pandemia no México se prolonga por dois problemas fundamentais: não ter aplicado confinamento obrigatório e ajuda financeira insuficiente para a população, estimam os especialistas

AFP
22/07/2020 às 12:05.
Atualizado em 25/03/2022 às 19:08

Enquanto alguns países se preparam para uma possível segunda onda de COVID-19, a pandemia no México se prolonga por dois problemas fundamentais: não ter aplicado confinamento obrigatório e ajuda financeira insuficiente para a população, estimam os especialistas.

Rejeitar o confinamento forçado foi uma decisão arriscada do presidente de esquerda, Andrés Manuel López Obrador, justificada pelo respeito aos direitos humanos, mas principalmente pela necessidade de milhões de trabalhadores informais - 56% da força de trabalho - de sair e encontrar sustento.

"Nunca houve uma quarentena rigorosa. Como sociedade, não tivemos disciplina para ficar em casa e as cadeias de transmissão não foram cortadas", diz Malaquías López, ex-funcionário da Saúde e especialista em políticas públicas da Universidade Nacional Autônoma do México, UNAM.

O México, com 127 milhões de habitantes, é o quarto país do mundo em mortes por COVID-19 (40.400) e sétimo em infecções (356.255). Na América Latina, apenas o Brasil, com mais de 81.000 mortes e quase 2,2 milhões de infecções entre seus 212 milhões de habitantes, sofreu mais com o coronavírus.

López Obrador garante que a epidemia está regredindo, embora "muito lentamente", e presume que o sistema de saúde não entrou em colapso.

No entanto, o ministério da Saúde reconheceu que até terça-feira o crescimento médio de novos casos era de 1,2% ao dia e que levaria "alguns meses" para alcançar o controle adequado na maioria dos estados.

Outras ideias enraizadas em López Obrador limitaram a ajuda do governo, como uma austeridade obsessiva ou sua aversão ao endividamento e estímulos econômicos, que chama de políticas "neoliberais".

O pacote fiscal mexicano para enfrentar a crise da saúde é equivalente a 1,1% do PIB, o 12º entre 16 países da América Latina e menor que a média de 3,2% atribuída por cada país da região, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

O presidente anunciou programas de apoio para idosos, jovens e crianças, mas passou longe da problemática do confinamento.

Uma das medidas foi a concessão de três milhões de créditos para pequenas empresas e trabalhadores, de cerca de 1.110 dólares cada. Até sexta-feira, 963.831 empréstimos haviam sido distribuídos, segundo o governo.

"Os valores não são consistentes com a realidade", diz César Salazar, acadêmico do Instituto de Pesquisa Econômica da UNAM.

A falta de uma resposta proporcional à crise explica as previsões sombrias para a economia mexicana, que despencou 9% este ano, segundo analistas, e o desemprego, que só em abril arrastou 12 milhões de pessoas.

A necessidade de subsistência e o desgaste do confinamento - em vigor de março a junho, mas ainda recomendado pelas autoridades - complicariam uma nova quarentena se a epidemia persistir.

Um novo fechamento econômico "seria um golpe muito forte para muitas empresas que foram capazes de sobreviver até agora", diz Salazar, que acredita que nesse cenário o Estado precisaria aumentar o apoio.

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