INTERNACIONAL

Os sem-teto, entre a solidão e a sobrevivência frente ao coronavírus

Ficar em casa para evitar o novo coronavírus não é possível para pessoas sem-teto, que enfrentam uma tensão crescente

AFP
27/03/2020 às 10:39.
Atualizado em 31/03/2022 às 06:28

Ficar em casa para evitar o novo coronavírus não é possível para pessoas sem-teto, que enfrentam uma tensão crescente. Em Bruxelas, o Samu Social sai às ruas para ajudá-los, inclusive com um centro de emergência.

"Lá vai ele! Esqueci de perguntar se ele tinha um pequeno frasco de desinfetante", diz Nelly (nome fictício a seu pedido) a Roberto, um enfermeiro do Samu Social que faz ronda com sua parceira Edwige.

Envolta em seu casaco e cachecol grosso, a mulher de 72 anos se estabeleceu em um túnel para pedestres sob os trilhos de uma das principais estações de trem de Bruxelas. Protegida contra intempéries, mas não contra correntes de ar.

"Sempre tentamos não ir aonde há muita gente. Evito fazê-lo", explica a senhora, que afirma respeitar essa recomendação em tempos de pandemia.

"Corremos menos riscos ficando no exterior do que em lugares confinados", assegura Nelly, que não gosta de abrigos. "Faço tudo a pé. Evito me aproximar das pessoas. Fazemos o que podemos".

Numa época em que a recomendação do governo belga é "fique em casa", sua situação é um "paradoxo", nas palavras do diretor geral do Samu Social de Bruxelas, Sébastien Roy.

"Não se adapta aos perfis com os quais lidamos, a saber, alojamentos coletivos e o mundo dos sem-teto", explica à AFP.

Um pouco mais tarde, Edwige e Roberto seguem para o bairro de Marolles. Uma ligação os alertou para as dificuldades enfrentadas por um homem de muleta.

É Katia, uma vizinha, preocupada com a alimentação dos desabrigados, principalmente quando é "ainda mais difícil tomar café pela manhã" devido ao fechamento decretado de restaurantes.

"E, com todos nós em casa, essas pessoas estão sozinhas, sem contato. Acho que sofrem mais com a situação do que nós, que devemos ficar em casa", lamenta.

Três homens se aproximam da caminhonete do Samu Social, frequentadores assíduos, que pedem meias, roupas quentes e algo para comer.

"Estamos agora na fase de sobrevivência", explica Edwige, cujo trabalho de assistente social e de reintegração está em suspenso devido à crise.

"Sentimos que estão cada vez mais famintos. Por enquanto a situação está controlada, mas só temos latas de atum... Eles pedem muita água, mas não temos", descreve.

A situação de higiene é "catastrófica". Muitas associações que ofereciam chuveiros tiveram que fechar, principalmente por motivos de pessoal, uma vez que os voluntários estão confinados, muitos deles em idade avançada.

O Samu Social, que recruta pessoal, especialmente da saúde, para lidar com a situação, criou um centro para receber pessoas suspeitas de terem sido infectadas e pede testes para todos os abrigos. Atualmente, o centro abriga oito.

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