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Pablo Heras-Casado, o maestro espanhol 'restaurador' de Beethoven

A música clássica está fadada a se repetir? Nem um pouco, e menos ainda no caso de Beethoven, diz Pablo Heras-Casado, o maestro espanhol com maior projeção do momento e um apaixonado explorador da obra do alemão, cujo 250º aniversário de nascimento é comemorado este ano

AFP
15/10/2020 às 11:04.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:32

A música clássica está fadada a se repetir? Nem um pouco, e menos ainda no caso de Beethoven, diz Pablo Heras-Casado, o maestro espanhol com maior projeção do momento e um apaixonado explorador da obra do alemão, cujo 250º aniversário de nascimento é comemorado este ano.

Com quase 43 anos, Heras-Casado dirige há mais de duas décadas os palcos de maior prestígio da Europa e dos Estados Unidos. No dia 25 de outubro fará sua estreia no Scala de Milão com obras de Wagner, Prokofiev e Schönberg.

À espera deste novo desafio, que aguarda com "grande entusiasmo", reflete sobre a sua procura da originalidade numa entrevista à AFP no Teatro Real de Madri, onde é o principal maestro convidado.

"Perpetuar uma tradição sobre a qual não se pensou nem se refletiu é a morte da arte e um sinal de preguiça intelectual", afirma.

Seu repertório vai do barroco à música de vanguarda, mas sua maior fraqueza se chama Ludwig van Beethoven, nascido há 250 anos: "ele me acompanhou ao longo da minha vida", sorri.

Apoiado em elaborado arcabouço teórico, Heras-Casado vem aplicando com o compositor de Bonn a chamada abordagem historicista: interpretar suas obras com instrumentos da época, e com uma leitura anexada à partitura original, que dispensa a "pátina" dos cânones herdados de alguns maestros importantes do século XX.

A diferença para o ouvinte, em comparação com uma orquestra sinfônica moderna, é perceptível.

Nos séculos XVIII e XIX, as cordas de violinos, violas e violoncelos não eram metálicas como são agora, mas baseadas em tripas de porco, que produzem um som menos potente e forçam uma execução um pouco mais rápida da partitura.

O som dos metais também muda: menos incisivo e mais amplo.

"Em teoria, têm possibilidades mais limitadas" esses instrumentos, usados nas orquestras barrocas atuais, ressalta.

Mas se deixarmos "a música falar (...) surge algo muito mais inovador" do que o "molde" com que muitas vezes se ouve e se repete o repertório clássico em auditórios e conservatórios de música.

"Quando se sabe algo mais sobre a verdade, sobre a essência da arte de um compositor, ninguém pensaria em cobri-la com uma dose de lugares comuns", defende Heras-Casado, convencido de que em cada interpretação se deve "tentar oferecer a possibilidade de voltar a ouvir uma obra".

O maestro espanhol passou uma década trabalhando nesta forma de interpretar com a Orquestra Barroca de Friburgo, especializada neste prisma historicista que até há poucos anos padeceu de um certo esnobismo por parte do público e de alguns críticos.

Com esta formação, acaba de gravar para a gravadora Harmonia Mundi uma série de obras emblemáticas de Beethoven: os cinco concertos para piano e orquestra, a 9ª sinfonia e o triplo concerto para violino, violoncelo e piano.

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