INTERNACIONAL

Pandemia altera drasticamente a vida da classe média peruana

Desde março, quando eclodiu a pandemia do novo coronavírus no Peru, Sara Paredes e seu marido, Raúl Cisneros, não ganham dinheiro suficiente para alimentar os dois filhos pequenos e pagar o aluguel do apartamento em Magdalena del Mar, distrito costeiro de Lima

AFP
24/07/2020 às 19:49.
Atualizado em 25/03/2022 às 18:03

Desde março, quando eclodiu a pandemia do novo coronavírus no Peru, Sara Paredes e seu marido, Raúl Cisneros, não ganham dinheiro suficiente para alimentar os dois filhos pequenos e pagar o aluguel do apartamento em Magdalena del Mar, distrito costeiro de Lima.

"Já vamos para cinco meses em que ninguém me deu um trabalho de tradução, menos ainda de interpretação", diz Raúl, de 46 anos, tradutor e professor de quéchua, idioma do antigo povo inca, que ainda é falado por milhões de peruanos. Tampouco pôde continuar com as aulas presenciais e todos os seus contratos com instituições estatais simplesmente pararam.

Com o confinamento obrigatório provocado pela pandemia, que durou mais de cem dias, Sara, de 45 anos, não conseguiu continuar com as aulas na Escola de Belas Artes. Também cancelaram suas apresentações teatrais.

Parte da classe média peruana, formada por 15 dos 33 milhões de habitantes do país, foi duramente afetada pela pandemia.

O longo confinamento representou um golpe para a economia de um país que crescia acima da média latino-americana: o PIB caiu 17% nos primeiros cinco meses do ano e 2,6 milhões de empregos foram perdidos, segundo cifras oficiais. Os setores de renda média vinham crescendo de forma sustentada há 15 anos, acompanhando a expansão econômica.

Desde 2004, mais de meio milhão de peruanos entraram para a classe média, ao começar a ter rendimentos superiores a 300 dólares mensais em uma família de quatro pessoas, segundo os critérios do Banco Mundial.

Mas a pandemia cortou abruptamente essa tendência positiva. Agora, quase um milhão de peruanos passarão a integrar a parte da população com menor renda, e outro milhão deixará esta faixa para mergulhar na pobreza, segundo um relatório do centro de estudos da Câmara de Comércio de Lima.

O freio econômico provocado pela pandemia representou uma "perda de bem-estar muito considerável para as famílias peruanas", diz à AFP o economista Jorge González Izquierdo, ex-ministro do Trabalho.

"A produção cai fortemente, o emprego desaba e os rendimentos caem consideravelmente. As três coisas juntas implicam em que a pobreza vai crescer vários pontos percentuais. Além disso, vai aumentar a informalidade" econômica, acrescenta.

Cerca de 70% dos trabalhadores peruanos atuam na informalidade.

Diante da impossibilidade de cobrir suas despesas em Lima, Sara Paredes e o marido optaram por ser mudar para Ayacucho, onde os aluguéis são mais baratos.

Claro que também há menos opções de trabalho para o casal ou para dar uma boa educação aos seus filhos, a menina Yaku, de sete anos, e o menino Amaru, de quatro.

"Não temos certeza de que tudo será melhor lá. É como saltar no vazio (...). Economicamente falando e também (por) nosso desenvolvimento, nos convém estar em Lima", admite a mulher.

Para mitigar o vendaval, o governo do presidente Martín Vizcarra distribuiu bônus de 110 dólares a milhares de famílias em situação de vulnerabilidade. Também autorizou os saques de 25% dos fundos de pensão privados, até um máximo de 3.700 dólares, para seis milhões de cotistas.

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