INTERNACIONAL

Para manifestantes iraquianos, os políticos são o 'verdadeiro vírus'

A epidemia do novo coronavírus exacerbou o desconforto dos manifestantes no Iraque, que há cinco meses denunciam a corrupção do Estado, incapaz de prestar serviços básicos, e o controle exercido pelo Irã

AFP
02/03/2020 às 12:18.
Atualizado em 07/04/2022 às 09:06

A epidemia do novo coronavírus exacerbou o desconforto dos manifestantes no Iraque, que há cinco meses denunciam a corrupção do Estado, incapaz de prestar serviços básicos, e o controle exercido pelo Irã.

"O verdadeiro vírus são os políticos. Para todo o resto, somos imunes", disse à AFP a manifestante Fátima, estudante de medicina de 18 anos.

No Iraque, foram diagnosticados 19 casos de contágio da epidemia de COVID-19, um iraniano que foi repatriado e 18 iraquianos. Todos chegaram do vizinho Irã, onde há 66 mortos e cerca de 1.500 contaminados.

Nos acampamentos de manifestantes em Teerã e nas cidades do sul, as tendas que atendiam feridos por bala ou asfixiados por gás lacrimogêneo, tornaram-se centros para a distribuição de gel desinfetante e de aconselhamento sobre a epidemia.

Voluntários em trajes de proteção medem a temperatura dos manifestantes, outros distribuem luvas e máscaras, cujos preços nas farmácias dispararam.

"Já em tempos normais, nosso sistema de saúde é nulo. Então, como podemos confiar em nossos hospitais com o novo coronavírus?", reclama Fátima, que sensibiliza sobre a doença em Tahrir, epicentro do movimento de protesto.

Hasan Khallati, da Comissão Parlamentar de Saúde, assegurou que "os hospitais e unidades de saúde têm o equipamento necessário para enfrentar a epidemia".

Mas o Iraque possui menos de 10 médicos para cada 10.000 habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para impedir a propagação da epidemia, o Iraque fechou sua fronteira com o Irã e proibiu viagens de e para o país.

Mas os laços bilaterais são muito importantes. O Irã é o segundo maior exportador no Iraque e todos os anos milhões de iranianos fazem peregrinações a cidades sagradas xiitas iraquianas, enquanto muitos iraquianos vão ao território iraniano para receber tratamento ou visitar lugares sagrados.

Os manifestantes questionam os números oficiais de ambos os países sobre a epidemia.

"Certamente há casos que as autoridades não anunciaram. É absolutamente necessário que sejam transparentes com o povo", disse à AFP Rusol, estudante de medicina, em meio aos protestos em Diwaniyah (sul).

A crise no Iraque se aprofundou no domingo com a renúncia do governo designado, incluindo seu ministro da Saúde.

Nas redes sociais não param de circular vídeos que mostram hospitais onde equipamentos obsoletos estão empilhados ou mesmo fora de serviço.

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