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Por quê Israel celebrará novas eleições em plena pandemia?

A decisão de convocar novas eleições legislativas em Israel para março, o quarto pleito em dois anos, mostra as profundas divisões políticas do país

AFP
23/12/2020 às 10:09.
Atualizado em 24/03/2022 às 00:05

A decisão de convocar novas eleições legislativas em Israel para março, o quarto pleito em dois anos, mostra as profundas divisões políticas do país.

Na primavera passada (outono no Brasil), após três eleições que não mostraram um claro vencedor em sua disputa com Benjamin Netanyahu, o ex-comandante do exército e novato na política Benny Gantz surpreendeu o país ao decidir compartilhar o poder com o rival.

Gantz afirmou que desejava acabar com um ano e meio de instabilidade política e dar ao país um governo que conseguiria enfrentar a pandemia de coronavírus.

O plano era compartilhar o poder durante três anos, com Netanyahu como primeiro-ministro durante 18 meses e Gantz nos 18 meses posteriores, a partir de novembro de 2021.

Mas rapidamente surgiram tensões entre os dois: Gantz criticou Netanyahu por adiar a aprovação do orçamento e Netanyahu acusou o aliado/rival de querer controlar as nomeações judiciais por meio do ministro da Justiça, membro de seu partido.

Os parlamentares tinham prazo até 23H59 de 22 de dezembro para votar o orçamento. Os deputados rejeitaram um compromisso de última hora de Gantz. Com o resultado, a Knesset - o Parlamento israelense - foi dissolvida e novas eleições foram convocadas para 23 de março.

Analistas questionaram desde o início a vontade de Netanyahu, chefe de Governo desde 2009, de ceder o poder a Gantz.

Horas antes da dissolução do Parlamento, Netanyahu afirmou que "não queria eleições", ao mesmo tempo que acusou Benny Gantz de tentar controlar as nomeações judiciais, algo que ele não poderia aceitar porque "abalava a democracia".

Netanyahu será julgado no início do ano por corrupção, peculato e abuso de confiança, um processo que corre o risco de coincidir com a campanha eleitoral.

O primeiro-ministro poderia tentar utilizar as audiências para apresentar-se, como já fez, como vítima de uma tentativa de "golpe judicial" para reunir apoio popular.

Nos últimos meses, Israel anunciou acordos de normalização com quatro países árabes (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos), mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um aliado crucial de Netanyahu.

Joe Biden sucederá Trump em janeiro e não é possível saber exatamente qual será a posição do democrata ante novos acordos de normalização.

Os quatro acordos são populares em Israel, um país que tem, por exemplo, centenas de milhares de cidadãos de origem marroquina, que formam a coluna vertebral do Likud, partido de Netanyahu.

Além dos acordos, o primeiro-ministro pode tentar o trunfo de uma campanha de vacinação rápida contra o coronavírus para apresentar-se como um defensor de Israel. O país iniciou a imunização esta semana e Netanyahu foi o primeiro cidadão a receber o fármaco.

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