INFLAÇÃO

Preço do gás pressiona bolso do consumidor

Botijão tem passado por novos reajustes e consumidor, comércio e revendas sofrem com as altas

José Ricardo Ferreira
ricardo.ferreira@gazetadepiracicaba.com.br
12/11/2020 às 21:52.
Atualizado em 24/03/2022 às 01:03

Acréscimos acumulados pesam no bolso de quem usa na cozinha our empreendimentos (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

O aumento do preço do botijão de gás liquefeito de petróleo (GLP) de 13 kg, usado principalmente em residências, está preocupando o consumidor, o comércio e as revendas. Esse mês, por exemplo, a Petrobras aumentou o valor, pela oitava vez, em seis meses. O acréscimo foi de 5%. Parece pouco, mas se pegar todos os reajustes "pinga gotas" do ano eles vão pesar nos bolsos. O valor, em Piracicaba, varia entre R$ 85 e R$ 89. Mas tem consumidor que afirma que já pagou R$ 90. Robson Fernando Corrêa representa os revendedores da cidade. São cerca de 160 estabelecimentos. Ele confessa que é inglória a luta para que os preços não subam tanto, pois o GLP vem do refino do petróleo, combustível fóssil cujo preço é atrelado às variações do dólar. É improvável que esse cenário de reajustes mude por mais que as revendas do país protestem no Ministério de Minas e Energia ou no gabinete presidencial. O petróleo é uma commodity, por isso seu preço é ajustado de acordo com a lei da oferta e demanda mundiais. Fernando conta que as revendas buscaram segurar ao máximo grandes repasses até agora, mas que isso não será mais possível. Ele visualiza que ainda esse ano os 13kg de GLP vão chegar a R$100 para o consumidor final. A revenda tem gastos com transporte, água, luz, combustível, aluguel, funcionários etc. Dessa forma, não tem como represar os reajustes, segundo Fernando. De acordo com ele, se não fosse o GLP "vítima" do dólar os 13kg chegariam a cerca de R$ 50 ao consumidor final. Mas isso hoje é uma utopia. Ainda de acordo com Fernando, se fosse para vender com uma margem de lucro real, o botijão teria que sair da revenda a R$ 103 em novembro. Para se ter uma ideia, em março desse ano, um pouco antes do pico da pandemia do novo coronavírus, o botijão de 13kg estava a R$ 78. Desde aquele mês o reajuste foi de 14,2% se levarmos em conta um botijão a R$ 89. Fernando alerta que muitas revendas estão fechando. Uma empresa de médio porte emprega até cinco pessoas. Isso vai significar desemprego no país também. A pandemia, acrescenta o empresário, afetou as vendas também. Houve meses que a queda foi de 65% na comparação entre meses de 2020 e 2019. "Em outubro caiu 40% a venda", disse. Fernando reforça que o futuro próximo não é animador. Não há saída mágica para o problema. Gás alto reflete diretamente na inflação ao consumidor e a tendência é que as pessoas reduzam o consumo e as compras. A dona de casa Helena Aparecida Teodoro diz que reduziu o uso do GLP. "Fazia tortas e bolo todos os finais de semana. Parei. Está muito caro", se queixou. Padarias O GLP é fundamental para muitos estabelecimentos comerciais, entre eles as padarias. Segundo Levi Roccia, presidente da Apapir (Associação dos Panificadores de Piracicaba e Região), o gás representa, em média, 2% dos custos de uma padaria. Ele explica que não há saída para evitar o repasse dos produtos de panificação ao consumidor no balcão. Roccia entende que uma das saídas é substituir o GLP por fornos à lenha ou energia elétrica. Mas há um custo para isso e nem todos os comerciantes têm acesso aos créditos bancários ou capital de giro para esse investimento. "O governo federal não segurou os preços e lavou as mãos", disse ele. Por não ter concorrência, o gás canalizado também implica reajustes muitas vezes amargos para o comércio, segundo Riccia. Piracicaba conta com cerca de 150 padarias. Muitas delas usam o gás não apenas para panificação, mas para lanches quentes e comida a quilo. "Esse ano tudo está subindo. O trigo, a margarina, a gordura, o leite condensado. São grandes emoções", descontraiu Roccia.

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