INTERNACIONAL

Premier britânico defende revisão polêmica de acordo do Brexit

O premier britânico, Boris Johnson, defendeu nesta quarta-feira seu plano de desrespeitar compromissos assumidos no âmbito do Brexit, para "proteger os empregos e o crescimento", deixando tensa a relação com a União Europeia (UE), que se declarou "muito preocupada", em um momento crítico da sua negociação comercial

AFP
09/09/2020 às 20:16.
Atualizado em 25/03/2022 às 02:33

O premier britânico, Boris Johnson, defendeu nesta quarta-feira seu plano de desrespeitar compromissos assumidos no âmbito do Brexit, para "proteger os empregos e o crescimento", deixando tensa a relação com a União Europeia (UE), que se declarou "muito preocupada", em um momento crítico da sua negociação comercial.

Como sinal da gravidade da situação, a UE anunciou à noite que o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, "viajará a Londres amanhã, a fim de se encontrar com o ministro britânico Michael Gove para uma reunião extraordinária do comitê misto". Trata-se de "obter esclarecimentos do Reino Unido sobre a aplicação plena, e sobre a data prevista, do acordo de retirada", tuitou o porta-voz do Executivo europeu, Eric Mamer.

Esta semana acontece em Londres a oitava rodada de negociações entre britânicos e europeus em busca do célebre tratado de livre-comércio que deverá reger a sua relação a partir de 1º de janeiro, quando terminar o período de transição pós-Brexit. Mas as negociações estão paralisadas há meses, e, para poder ratificar o documento a tempo, o impasse deve ser superado até outubro.

"Esta lei busca proteger os empregos, o crescimento e garantir a fluidez do comércio em todo o Reino Unido", defendeu Johnson na Câmara dos Comuns, onde o nacionalista escocês Ian Blackford o acusou de "criar um Estado desonesto".

Pelo Tratado de Retirada, se não houver acordo comercial entre Londres e Bruxelas, os produtos que passarem da Grã-Bretanha para a Irlanda do Norte a partir de 2021 poderão ser taxados e as empresas daquela província terão que preencher declarações alfandegárias em suas vendas para o restante do Reino Unido.

Trata-se de um acordo internacional legalmente vinculante, em vigor desde 31 de janeiro, e alterar suas disposições "viola o direito internacional", embora "de forma específica e limitada", assinalou o ministro para a Irlanda do Norte, Lewis Brandon.

- UE exige reunião urgente -

Indignadas, autoridades europeias assinalaram que respeitar o documento assinado é uma condição indispensável para se avançar na negociação. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou-se "muito preocupada com o anúncio do governo britânico sobre sua intenção de romper o Tratado de Retirada".

A mudança surpreendente de Londres acrescenta combustível às já difíceis negociações com a UE sobre um acordo comercial pós-Brexit. Expõe Londres a "graves consequências" de Bruxelas, advertiu o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.

O vice-primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, comparou a manobra do governo britânico a um ato "suicida", que "saiu pela culatra", desencadeando uma onda de reações negativas.

Criticado até em seu próprio campo, inclusive pela ex-chefe de Governo Theresa May, Boris Johnson defendeu seu projeto diante dos deputados durante a sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro.

O líder dos separatistas escoceses do SNP na Câmara dos Comuns, Ian Blackford, acusou-o de se considerar "acima da lei".

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