INTERNACIONAL

Presos em navios, milhares de tripulantes se desesperam por voltar para casa

Empresas de cruzeiros enviaram passageiros de volta aos seus países após travessias infernais, com surtos de coronavírus nos navios e negativas de atracar nos portos

AFP
12/05/2020 às 20:05.
Atualizado em 30/03/2022 às 00:04

Empresas de cruzeiros enviaram passageiros de volta aos seus países após travessias infernais, com surtos de coronavírus nos navios e negativas de atracar nos portos. Mas ainda falta resgatar dezenas de milhares de tripulantes, que continuam presos a bordo.

Enquanto isso, aumentam os conflitos entre os tripulantes, muitos deixaram de receber salários, outros não têm acesso à internet e se acumulam as ações contra as empresas, que dizem estar diante de uma situação "incrivelmente complexa".

"Somos prisioneiros. Preciso de ajuda. Precisamos de ajuda", pede o brasileiro Caio Saldanha, DJ do "Celebrity Infinity", que navega entre a Flórida e as Bahamas. O navio pertence à Celebrity Cruises, subsidiária da Royal Caribbean, com sede em Miami.

"Nunca pensamos que nos aconteceria isto, ter que lutar para descer de um barco que nos mantém prisioneiros", diz o músico de 31 anos da cabine sem varanda que compartilha com a namorada, Jessica Furlan, de 29.

Em 13 de março, os navios de cruzeiro receberam a ordem de "não navegar". Os que tinham passageiros conseguiram desembarcá-los depois de negociações complicadas, mas os tripulantes que ficaram a bordo estão em um limbo desde então.

"Estamos desesperados para ir para casa. Desesperados", diz Furlan, que seria anfitriã de atividades a bordo.

Somente em torno das águas americanas, há 104 cruzeiros com um total de 71.900 tripulantes a bordo, confirmou esta semana à AFP a Guarda Costeira americana.

Os que trabalham para manter o navio operacional - marinheiros, pessoal de limpeza, cozinheiros, por exemplo -, ainda recebem salário, mas não quem fazia o entretenimento dos passageiros. Outros concluíram seus contratos e estão gastando suas economias.

As companhias lhes fornecem hospedagem e comida, mas eles precisam pagar por itens como sabão e pasta de dentes. Em alguns casos, também para ter acesso à internet.

"Não temos internet grátis. De um ponto de vista eu entendo, mas não do humano", diz à AFP a sérvia Verica Brcic, gerente de spa do "Maasdam", da companhia Holland America, subsidiária da Carnival, também com sede em Miami.

Ela foi transferida em 29 de março ao "Koningsdam", que margeia a costa oeste com 1.100 tripulantes reunidos de oito embarcações.

"Um ser humano precisa ter contato com as notícias dos nossos países e do mundo exterior, em contato com as famílias", diz a mulher de 55 anos.

Não há novidades sobre repatriação. A última vez que esteve em terra firme foi no começo de março.

Um músico brasileiro de 52 anos que está em um navio da Princess Cruises (Carnival) também tem que pagar pela internet e diz que a comida é insuficiente. "Eu me sinto como em um confinamento forçado", conta. Ele pede para permanecer anônimo e nem sequer quis identificar sua embarcação.

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