ECONOMIA

Produtos mais procurados na quarentena têm alta 4 vezes maior do que a inflação

O confinamento imposto pela pandemia mudou os hábitos de consumo dos brasileiros que se viram do dia para noite trancados em casa tendo de cozinhar, trabalhar, estudar, tudo no mesmo lugar

Estadão Conteúdo
04/11/2020 às 12:28.
Atualizado em 24/03/2022 às 08:51

O confinamento imposto pela pandemia mudou os hábitos de consumo dos brasileiros que se viram do dia para noite trancados em casa tendo de cozinhar, trabalhar, estudar, tudo no mesmo lugar. E o comportamento de compras desse "novo normal" se refletiu nos movimentos de preços, também turbinados pela disparada do dólar.

Os dez subgrupos de produtos e serviços que registraram as maiores altas de preços nos últimos seis meses foram os mais demandados pelo consumidor. Juntos subiram em média 5,80% no varejo, resultado equivalente a quatro vezes a inflação geral do período, medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) do (IBGE), que foi de 1,35%.

Isso é o que revela um levantamento feito, a pedido do Estadão, pelo economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Fabio Bentes. A intenção do estudo, que cruzou informações de vendas do varejo do IBGE com as variações de preços medidas pelo IPCA-15, foi avaliar onde estão as maiores e as menores pressões inflacionárias na pandemia.

"A mudança repentina de hábito dos consumidores provocou um choque de preços relativos no IPCA-15 (a prévia da inflação oficial)", diz Bentes. Isso significa que houve produtos que registraram aumento abrupto de demanda e as empresas não tiveram tempo para ajustar a oferta. O resultado foi a alta de preços. O outro lado da moeda é que, com a mobilidade reduzida, o consumo de produtos e serviços relacionados caiu e os preços também. O recuo dos dez subgrupos com as maiores quedas foi de 3,42%.

Casa

O levantamento mostra que o subgrupo que reúne TV, aparelhos de som e itens de informática foi o que teve a maior alta de preços. Entre maio e outubro, eles foram majorados em quase 18%. Bentes optou por fazer a análise a partir de maio porque logo no início da pandemia as empresas tinham estoque e o impacto da maior procura nos preços não seria tão evidente.

O segundo subgrupo com a maior alta de preço também está relacionado com a moradia, foi de eletrodomésticos e equipamentos (8,88%), seguido por joias e bijuterias (7,2%). Móveis e eletrodomésticos foi o segmento cuja venda disparou com a pandemia e, na sequência, material de construção.

Fernanda Pacheco sentiu no bolso a inflação dos eletrônicos. Logo no início da pandemia, ela, que é editora de séries, teve de montar uma ilha de edição em casa. Em equipamentos e móveis gastou cerca de R$ 15 mil. Recentemente teve de comprar mais um HD (memória extra) e se surpreendeu. O produto, que tinha comprado por R$ 430, custava R$ 570. "O preço subiu bastante (32,5%)."

José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, que reúne fabricantes de eletroeletrônicos, admite que o setor reajustou em até 10% os preços nos últimos três meses por causa da alta dos insumos importados, impactados pelo dólar, e dos nacionais, principalmente plástico e aço. "Por mais que se faça esforço para entregar produto acessível, inevitavelmente a gente acaba tendo de colocar no preço final."

Esses aumentos de preços não espantaram o consumidor, que foi às compras. "As vendas estão surpreendendo", diz o supervisor-geral da Lojas Cem, José Domingos Alves. Desde que as 285 lojas especializadas em móveis e eletrodomésticos foram reabertas, as vendas têm crescido 30% sobre 2019.

Estrago

A comida no domicílio foi o quarto subgrupo com maior alta de preços no período, com elevação de 6,62%, diz o estudo. Entre os dez itens com maiores reajustes, oito foram alimentos. O limão lidera a lista (129,7%), seguido pelo óleo de soja (54%), arroz (42,6%). Mas aparecem tijolo (28,7%) e vinho (25,5%).

Apesar de a alimentação não ser o subgrupo cujos preços mais subiram no período, essa é a cesta que provoca o maior estrago no orçamento das famílias e na inflação como um todo. "A sensação de mal estar causada pela inflação dos alimentos nos últimos meses é muito maior do que alta de preços da TV, som e artigos de informática", diz o economista. É que o consumo de comida não pode ser adiado, independentemente da falta de renda. E pesa mais no bolso dos mais pobres.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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