INTERNACIONAL

Qual o impacto do coronavírus nos conflitos no Oriente Médio?

O coronavírus fez dezenas de milhares de mortos e forçou metade da Humanidade ao confinamento. Mas o impacto da pandemia nas guerras no Oriente Médio permanece incerto, mesmo que a primeira consequência concreta tenha sido o anúncio saudita de um cessar-fogo unilateral no Iêmen

AFP
09/04/2020 às 11:29.
Atualizado em 31/03/2022 às 04:09

O coronavírus fez dezenas de milhares de mortos e forçou metade da Humanidade ao confinamento. Mas o impacto da pandemia nas guerras no Oriente Médio permanece incerto, mesmo que a primeira consequência concreta tenha sido o anúncio saudita de um cessar-fogo unilateral no Iêmen.

Nas últimas semanas, as Nações Unidas pediram repetidamente um cessar-fogo em todo o mundo, inclusive no Oriente Médio, para ajudar a conter a propagação da COVID-19 e impedir novas tragédias humanitárias para as populações vítimas desses conflitos.

A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, que opera no Iêmen em apoio às forças do governo, anunciou um cessar-fogo de duas semanas a partir das 6h00 desta quinta-feira, afirmando que essa decisão unilateral visava impedir a propagação do coronavírus.

Os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, ainda não reagiram.

"Estamos preparando o terreno para combater a COVID-19", disse uma autoridade saudita na quarta-feira.

Apesar do pedido de cessar-fogo promovido pelas Nações Unidas em março, a violência aumentou recentemente no país.

Nos últimos anos, as negociações fracassaram sucessivamente no Iêmen, que sofre com a pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.

ONGs temem uma catástrofe se o vírus se espalhar, uma vez que o Iêmen possui um sistema de saúde precário, e enquanto 24 milhões de pessoas, mais de dois terços da população, precisam de assistência humanitária.

O novo coronavírus começava a ganhar escala internacional no momento em que uma nova trégua entrava em vigor no início de março na província de Idlib e arredores do noroeste da Síria.

Os três milhões de habitantes dessa região tinham poucas esperanças nessa nova trégua, exaustos pela última ofensiva mortal do regime de Damasco. Mas o medo da epidemia parece contribuir para a manutenção do cessar-fogo.

Em março, o número de vítimas civis caiu para o nível mais baixo desde o início do conflito em 2011, com 103 mortes, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Para os vários atores no terreno - o regime, as forças curdas no nordeste e as facções anti-Damasco em Idlib - a boa gestão da epidemia consolidaria sua credibilidade.

"Essa epidemia é uma maneira de Damasco mostrar que apenas o Estado sírio é eficaz e, portanto, é necessário reintegrar os diferentes territórios", estima o especialista Fabrice Balanche.

A pandemia também pode precipitar a saída das tropas americanas. Mas isso contribuiria para um vácuo de segurança que incentivaria o ressurgimento do grupo Estado Islâmico (EI), cujo "califado" na Síria entrou em colapso em março de 2019.

Em nove anos, o conflito sírio matou mais de 380.000 pessoas e deslocou milhões, que são particularmente vulneráveis se a epidemia se espalhar.

Os protagonistas do conflito líbio saudaram o pedido de cessar-fogo da ONU no mês passado... antes de retomarem as hostilidades.

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