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Quino, o cartunista taciturno que eternizou Mafalda

"Desenho porque falo mal", confessou certa vez. Esse complexo como orador levou o argentino Joaquín Lavado "Quino" a recorrer ao desenho, do qual nasceu a sua melhor porta-voz, Mafalda, a menina irreverente que levou suas palavras ao mundo inteiro

AFP
30/09/2020 às 15:26.
Atualizado em 24/03/2022 às 13:32

"Desenho porque falo mal", confessou certa vez. Esse complexo como orador levou o argentino Joaquín Lavado "Quino" a recorrer ao desenho, do qual nasceu a sua melhor porta-voz, Mafalda, a menina irreverente que levou suas palavras ao mundo inteiro.

Este filho de andaluzes nascido aos pés dos Andes, na província de Mendoza (oeste), em 17 de julho de 1932, descobriu cedo que o lápis pode ser uma arma criativa, tão celebrada quanto temida.

Ele morreu nesta quarta-feira aos 88 anos, informou seu editor, Daniel Divinsky, no Twitter.

"Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo ficarão de luto por ele", escreveu Divinsky, diretor da Ediciones de la Flor.

E chora-se. #Quino aparece nos destaques do Twitter argentino com uma avalanche de mensagens de despedida.

"Aos três anos desenhei meu tio. Descobri que gente, cavalos, trens, montanhas podem vir de algo tão simples como um lápis. Um lápis é algo maravilhoso", disse Quino.

Aos 13 anos ingressou na Escola de Belas Artes de Mendoza, mas logo ficou "cansado de desenhar ânforas e gessos" e transformou sua genialidade em quadrinhos e humor.

"Falar arrisca dizer coisas erradas sobre o bem e o mal", explicou ele para justificar sua escassez com palavras. Crítico implacável de seu trabalho, ele se definia como um péssimo cartunista.

"Desenhava muito mal, cometi um grande erro", disse uma vez que aquele que garantia ter aprendido o ofício "suando tinta".

Aos 18 anos publicou o seu primeiro quadrinho em Buenos Aires, mas foi aos 30 que Mafalda nasceu do traço do seu lápis, a menina que odeia sopa, concebida a pedido de um anúncio de eletrodomésticos em 1963.

"É uma menina que tenta resolver o dilema de quem são os mocinhos e quem são os malvados deste mundo", definiu o seu criador.

A campanha nunca aconteceu e Mafalda ficou guardada em uma pasta até 1964, quando foi publicada no semanário de Buenos Aires Primera Plana por impulso da mulher de Quino, Alicia Colombo, sua inseparável companheira durante mais de meio século.

"A minha mulher foi a chave para a Mafalda ser conhecida", afirmou ao dedicar o Prêmio Príncipe das Astúrias a Alicia em 2014.

Embora nunca tenha negado a fama mundial que Mafalda lhe trouxe, Quino sempre a considerou mais um desenho.

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