Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que frequentam grupos de WhatsApp governistas estão "esperando um sinal" para saber como agir diante da troca dos comandantes das Forças Armadas e da demissão do ministro da Defesa, avalia o professor de Estudos em Mídia David Nemer, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que frequentam grupos de WhatsApp governistas estão "esperando um sinal" para saber como agir diante da troca dos comandantes das Forças Armadas e da demissão do ministro da Defesa, avalia o professor de Estudos em Mídia David Nemer, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Ele monitora 75 grupos bolsonaristas como objeto de pesquisa.
"Estão esperando o debate ser pautado para eles poderem se engajar, porque eles não sabem se isso vai ser uma coisa ruim ou não. Porque são dois aspectos de que eles sempre se sentiram próximos: Bolsonaro e as Forças Armadas", disse. "É como ver o pai e a mãe brigando. Que lado eles vão tomar? Sempre vão tomar o lado do Bolsonaro, mas estão esperando ver como é que isso vai se dar."
Percepção semelhante é relatada pelo programador Guilherme Felitti, da empresa de análise de dados digitais Novelo Data, que foca pesquisas no YouTube. Para ele, os bolsonaristas estão com "dificuldade" em interpretar as baixas relacionadas aos militares. "A demissão do Azevedo racha a crença de unidade entre Bolsonaro e o Exército e contradiz todas aquelas narrativas de 'intervenção' incentivadas, principalmente, desde o começo da pandemia", afirmou. O monitoramento da Novelo acompanha diariamente os 183 maiores canais de extrema direita no Brasil.
Nos últimos dias, tem circulado com frequência entre os grupos de apoio ao presidente uma convocação para manifestação em quartéis. O chamamento, que fala em "intervenção militar com Bolsonaro no poder", é para marcar o aniversário de 57 anos do golpe militar de 1964. "Essa mesma coisa circulou no ano passado e não teve muita adesão. A gente não sabe direito como isso vai se dar. Apesar de ter a chamada, eu acho difícil ter algo muito grande."
Segundo análise feita pela Agência Bites, de segunda-feira, 29, data das seis trocas ministeriais, até as 10h desta terça, 30, houve 650 mil citações ao assunto no Twitter. O volume é considerado "grande". As repercussões tiveram foco principal nas mudanças no Itamaraty e no Ministério da Defesa.
Além do domínio narrativo no Twitter, as audiências bolsonaristas também monopolizaram os cinco vídeos de maior repercussão no YouTube, desde ontem, citando o presidente. Os conteúdos abordam as mudanças ministeriais, e três vídeos, juntos, angariaram 747 mil visualizações, segundo monitoramento da Bites.
A possibilidade de Bolsonaro realizar um "autogolpe" é vista com preocupação, mas pelos perfis de esquerda. Isso porque a mudança que causou mais surpresa foi a saída do ministro Fernando Azevedo e Silva da pasta da Defesa. "Alguns perfis de esquerda demonstraram preocupação com a possibilidade de o presidente flertar com um autogolpe, enquanto bolsonaristas repercutiram as trocas na Defesa e debateram o papel das Forças Armadas", apontou relatório da Bites.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.