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Reino Unido estuda endurecer política migratória e cria nova polêmica

Enviar os migrantes no meio do Atlântico para velhas balsas, ou até criar ondas no Canal da Mancha para fazer suas embarcações se afastarem: as propostas do Reino Unido para endurecer sua política migratória geram polêmica

AFP
01/10/2020 às 14:48.
Atualizado em 24/03/2022 às 13:31

Enviar os migrantes no meio do Atlântico para velhas balsas, ou até criar ondas no Canal da Mancha para fazer suas embarcações se afastarem: as propostas do Reino Unido para endurecer sua política migratória geram polêmica.

O governo do primeiro-ministro conservador Boris Johnson, que transformou o controle migratório em seu novo cavalo de batalha depois do Brexit, assiste a um número recorde de tentativas de migrantes de atravessarem o Canal da Mancha, partindo da França, em barcos improvisados e, às vezes, com a mediação de traficantes de pessoas.

Em agosto, a ministra do Interior, Priti Patel, prometeu fazer o possível para tornar essa rota "intransitável". Várias opções de dissuasão foram contempladas, embora nenhuma tenha sido adotada até agora, de acordo com a imprensa britânica.

De acordo com o jornal "Financial Times", o Ministério do Interior contemplou enviar os requerentes de asilo a mais de 6.000 quilômetros de distância do Reino Unido, no meio do Atlântico Sul, para as ilhas vulcânicas de Ascensão e Santa Helena, onde Napoleão morreu. Desistiram da ideia por razões práticas.

Outra proposta, relata o jornal, seria implantar navios que geram ondas para forçar os pequenos barcos a recuarem para as águas francesas - o que geraria "preocupações quanto ao risco de virar os migrantes".

O jornal "The Guardian" afirma que Downing Street considerou construir centros de tratamento para requerentes de asilo na Moldávia, no Marrocos, ou na Papua-Nova Guiné. A opção foi descartada por diplomatas.

De acordo com o "Times", o Executivo planejou, inclusive, reter os migrantes em plataformas de petróleo desativadas, antes de optar por balsas fora de serviço que lançariam âncora em alto-mar.

"Desenvolvemos projetos para reformar as políticas e a legislação sobre a imigração "ilegal"" com o objetivo de "impedir abusos" e "criminalidade", reagiu um porta-voz de Boris Johnson, que não confirmou as notícias da imprensa.

"É extremamente importante dissuadir as pessoas de fazerem viagens que põem suas vidas em risco e que peçam asilo no primeiro país seguro, ao qual chegam", acrescentou.

"Nesse âmbito, observamos o que muitos outros países fazem", completou o porta-voz.

Para muitos críticos, tanto da oposição quanto defensores dos direitos humanos, essas propostas derivam diretamente do bastante polêmico sistema australiano, condenado pela ONU.

A Austrália não aceita refugiados em seu território, mesmo aqueles que preencham os critérios para o direito de asilo. Os refugiados que não são rejeitados no mar são enviados para centros especializados nas ilhas do Pacífico.

As pistas mencionadas pelo Reino Unido constituiriam "o prolongamento do ambiente hostil" para com a migração "ilegal" já aplicado por sucessivos governos conservadores, disse Angieszka Kubal, professora de sociologia da University College London, à AFP.

"Os "tories" [conservadores] passam de uma ideia desumana e impraticável para outra", o que demonstra que perderam "qualquer senso de compaixão", disse Nick Thomas-Symonds, responsável pelas questões de imigração na oposição trabalhista.

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