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Rohingya reencontra esposa e filha, que acreditava estarem mortas

Apenas algumas semanas após o enterro de sua esposa e sua filha, as quais acreditava terem morrido enquanto fugiam dos campos de refugiados rohingyas de Bangladesh, Nemah Shah conseguiu identificá-las em um vídeo, desembarcando na Indonésia

AFP
16/12/2020 às 11:19.
Atualizado em 24/03/2022 às 04:36

Apenas algumas semanas após o enterro de sua esposa e sua filha, as quais acreditava terem morrido enquanto fugiam dos campos de refugiados rohingyas de Bangladesh, Nemah Shah conseguiu identificá-las em um vídeo, desembarcando na Indonésia.

Este homem, um rohingya de 24 anos, contou a história deste reencontro incrível à AFP durante uma investigação sobre as redes clandestinas que operam com os membros desta minoria muçulmana perseguida em Mianmar - país majoritariamente budista.

Depois de vários meses sem receber notícias de seus familiares, Nemah Shah descobriu, perplexo, as imagens de Majuma, de 27 anos, e Fátima (6 anos) vivas, entre um grupo de cerca de 100 rohingyas que chegaram em junho perto da cidade indonésia de Lhokeseumawe, na ilha de Sumatra.

Nesse momento, Nemah estava na Malásia, onde vivem pelo menos 100.000 rohingyas. "Quando reconheci minha mulher e minha filha, foi o dia mais feliz da minha vida", conta.

Cerca de 750.000 rohingyas fugiram em 2017 de uma intervenção no oeste de Mianmar por parte do Exército e de milícias budistas, algo que a ONU classificou como "genocídio".

Nemah Shah precisou deixar sua família para trás há seis anos quando emigrou de Mianmar para a Malásia.

Em Mianmar, sua esposa "sempre [teve] medo de que a matassem", conta ele.

Os abusos cometidos pelo Exército a forçaram a abandonar sua casa e, junto com sua filha, conseguiu chegar a Bangladesh, onde vivem centenas de milhares de refugiados rohingyas.

Entretanto, Nemah Shah descartou a ideia de sua esposa e filha se mudarem para a Malásia para viver com ele, temendo que a viagem fosse muito perigosa.

Todos os anos, centenas de rohingyas fogem dos campos de Bangladesh e embarcam em uma perigosa travessia. Nela, muitos deles acabam morrendo de fome, de doenças, ou pelos maus-tratos cometidos pelos traficantes.

Mais de 200 morreram este ano, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Em segredo, porém, Majuma economizou parte do dinheiro que seu marido lhe enviava todo mês e, em fevereiro, tinha o suficiente para pagar um traficante e lançar-se ao mar.

A viagem deveria durar uma semana. Nemah Shah tentava averiguar como estava sendo, buscando informações sobre o barco em que estavam. Os meses foram passando, e ele não obtinha "nenhuma notícia" de sua esposa.

Perdeu as esperanças e, convencido de que haviam naufragado, organizou um "enterro" para se despedir. "Dizia para mim mesmo que nunca voltaria a casar, que não as esqueceria", conta ele à AFP.

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