AGRICULTURA

Safra de cana deve cair 3%

Estiagem que levou às chuvas tardias em Piracicaba e região é o principal agravante

José Ricardo Ferreira
ricardo.ferreira@gazetadepiracicaba.com.br
14/12/2020 às 20:18.
Atualizado em 24/03/2022 às 04:23
Safra tende a ser menor na colheita 2020/2021, mas ATR deixa otimista os produtores (Mateus Medeiros / Gazeta de Piracicaba)

Safra tende a ser menor na colheita 2020/2021, mas ATR deixa otimista os produtores (Mateus Medeiros / Gazeta de Piracicaba)

A chegada tardia das chuvas ao Centro-Sul do Brasil prejudicou o desenvolvimento de lavouras como a de cana-de-açúcar, segundo projeções do “Sistema Tempocampo”, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). A falta de chuvas agiu de forma negativa no atraso do desenvolvimento de muitos canaviais, prejudicando as futuras colheitas no início da próxima safra e na dificuldade para o plantio de novas áreas, com efeito sobre a taxa de renovação dos canaviais.

Desta forma, os efeitos da estiagem na macrorregião canavieira de Piracicaba devem resultar em uma queda na safra 2020/2021 de aproximadamente 3% ante a safra 2019/2020, segundo informou José Rodolfo Penatti, gerente do Departamento Técnico da Afocapi (Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba). Em números reais a safra deve cair de 33,1 milhões de toneladas (2019/20) para 32,1 milhões (2020/21).

Penatti entende que a queda não chega a ser desastrosa. O problema, disse ele, é que a redução das safras vem sendo sucessiva ano após ano com médias de 3 a 4% de recuo. Ele se recordou que as safras de usina e produtores já alcançaram 40 milhões de toneladas anos atrás na macrorregião canavieira de Piracicaba.

“A cana sofreu muito com a seca. Não houve chuva regular”, apontou. “A estiagem castigou no início da safra”.

Outro problema foi o aumento dos custos já que o dólar desvalorizou o real. Defensivos agrícolas e adubos sofreram aumento de cerca de 10% em seus valores esse ano. Em contrapartida, disse Penatti, os preços do açúcar e do etanol estão mais competitivos pois são commodities (produtos bases da economia internacional e com variação do dólar).

Se a safra deve ser menor, por outro lado a ATR (Açúcar Total Recuperado) será positiva esse ano: será de 5kg a mais por tonelada de cana, segundo informou o gerente da Afocapi. Isso significa mais açúcar para vender.

De fato, disse ele, o mix de produção aponta maior presença do açúcar na safra 2020/21: 46% de açúcar contra 35% na safra 2019/20. Já o etanol passou de 65,5% na safra 2019/20 para 54% na futura safra 2020/21.

Coplacana

“As chuvas tardias têm um reflexo na brota da cana”, explicou o presidente da Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo), Arnaldo Bortoletto. “Após o corte a soqueira brota para o ano que vem fazer a colheita novamente. Então, a falta de chuva prejudicou muito esse ano. As brotas estão mais atrasadas”, apontou.

A expectativa é que com a vinda das chuvas a tendência será de recuperação da lavoura. “Mas depende muito da quantidade de chuva. São necessários sol e chuva para a cana se desenvolver muito bem”.

Ainda de acordo com Bortoletto, até março de 2021 haverá uma avaliação real do volume de chuvas e sol. “Com o resultado nesse período é que teremos uma resposta sobre o reflexo climático na próxima safra”, disse.

Embora haja a projeção de queda na safra, Bortoletto também enfatizou o ganho na ATR. Ainda segundo ele, esse momento não é de plantios. “Dezembro e janeiro são os meses com menos plantios porque é uma época de alto risco devido às chuvas que podem resultar em assoreamento e consequentemente a cana não nascer”. O plantio se inicia a partir de fevereiro, segundo o presidente da Coplacana.

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