No entanto, preço do Açúcar Total Recuperado (ATR) está em baixa
Moagem ficou acima da safra anterior com 545 milhões de toneladas (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)
Com a chegada do final da safra 2022/23 na região Centro-Sul, a expectativa apresentada por Arnaldo Bortoletto, presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana (Coplacana), é de fechar o ciclo com a moagem próxima a 545 milhões de toneladas, o que estaria acima do desempenho da safra anterior, quando foram moídos 525 milhões de toneladas.
"Para a safra que se inicia no ano que vem (2023/24) esperamos nova melhora, com 570 a 580 milhões de toneladas moídas, o que seria o nosso normal", disse.
No entanto, o valor do Açúcar Total Recuperado (ATR), mês a mês, ao longo deste ano, caiu gradativamente. Começou a safra, em abril de 2021, a R$ 1,17 o quilo e bateu em R$ 1,13 no final deste ano, com o risco de iniciar a próxima safra, em abril de 2023, entre R$ 1,10 e R$ 1,13, que é o menor valor pago nesses últimos anos, segundo Bortoletto. Mas é preciso fechar as contas do ano para se obter o valor médio do ATR.
O presidente da Coplacana destaca que vem sendo comentada no setor uma possível tendência de queda nos preços da comodites. "Quem planta milho e soja também corre o mesmo risco. Ainda não caíram os preços desses outros dois produtos, mas caso haja desaceleração no mercado internacional, a tendência é de queda de preços da maioria das commodities agrícolas".
Dentre os problemas que causaram o desequilíbrio no setor estão a elevação do preço do fertilizante e do óleo diesel, em decorrência da invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra provocada por Vladimir Putin. Vale lembrar que os países do leste europeu são grandes produtores de fertilizantes, dos quais o agronegócio brasileiro depende. Por isso o custo do tratamento da safra foi muito mais elevado em relação à do ano passado.
Só que os preços desses fertilizantes no mercado internacional também já começaram a cair. Quem está preparando o plantio para a próxima sagra pode aproveitar o momento e reequilibrar seus custos. Somente o preço do diesel ainda não demonstra sinal de melhora.
Em relação ao clima, ele observa que o início da safra foi com boa precipitação pluviométrica entre janeiro e março. "Depois as chuvas pararam e passamos por um longo período de estiagem. O bom sinal é que em setembro já começamos a ter melhora no clima e isso pode ajudar muito se o ciclo natural acontecer, com bom volume de água em dezembro, janeiro, fevereiro e março. Estamos há quatro anos com esse índice abaixo da média. Isso atrapalha a produtividade de qualquer cultura. Mas vamos aguardar como vai se comportar a chuva na entressafra".
Reforma dos canaviais
Bortoletto observa que houve reformas de canaviais neste último ano "Mas tínhamos ficado dois anos abaixo da média nesse quesito, o que fez a produtividade cair no Centro-Sul. "Isso significa que ainda precisamos avanças nessa renovação".
Na região de Piracicaba, no seu entender, houve um problema adicional e que ainda precisa ser equacionado, que é o fechamento da Usina Santa Helena, em Rio das Pedras, anunciada pelo Grupo Raízen.
"Estamos marcando reuniões para saber como a cana que era consumida pela unidade será moída na próxima safra 2023/24. Já anteciparam que será dividida entre Usina Costa Pinto, Rafard e São Francisco. Porém, a usina Santa Helena concentra alto volume de cana colhida manualmente. Isso atrasa a moenda, pelo fato de ter mais massa, mais palha. Chamamos isso de engasgar as moendas, porque atrasa a produção. Por isso precisamos saber se esse volume que era destinado à Santa Helena e vai para outras unidades do grupo não vai atrasar a safra da Raízen. Ou seja, não sabemos ainda se eles vão conseguir processar o volume de cana que era da Santa Helena nessas três usinas. Há, portanto, vários fatores que precisam ser analisados nessa entressafra para que avancemos na próxima safra".