INTERNACIONAL

Sem torcedores nos estádios, times sul-americanos passaram a perder mais em casa

Os torcedores juram que sua presença é fundamental para que o seu time vença em casa... E não estão errados, pelo menos na América do Sul, onde em tempos de arquibancadas vazias aumentaram as derrotas e empates das equipes mandantes

AFP
04/03/2021 às 17:44.
Atualizado em 22/03/2022 às 10:03

Os torcedores juram que sua presença é fundamental para que o seu time vença em casa... E não estão errados, pelo menos na América do Sul, onde em tempos de arquibancadas vazias aumentaram as derrotas e empates das equipes mandantes.

A presença de espectadores nos estádios parece influenciar no desempenho como mandantes de equipes da Argentina, Brasil e Uruguai, segundo um levantamento da AFP analisando as últimas três temporadas das competições nesses países, com mais vencedores da Copa Libertadores.

A pandemia da covid-19 silenciou o Maracanã, onde o Flamengo atua como mandante. Na sofrida conquista do oitavo título no Campeonato Brasileiro, vencido a duras penas na semana passada, na última rodada, o Fla teve um aproveitamento 56% no principal palco do futebol no Brasil. Em 2018 foi de 77% e em 2019, 92,9%.

"Todo torcedor tem certeza absoluta que influencia no resultado do jogo", garante à AFP Gustavo Andrada Bandeira, autor do livro "Uma História do Torcer no Presente: Elitização, Racismo e Heterossexismo no Currículo de Masculinidade dos Torcedores de Futebol".

"Agora os "torcedores" poderão se afirmar como os únicos capazes de transformar o ambiente de qualquer praça arquitetônica na casa de um determinado time. E os dados estatísticos nos ajudam a corroborar isso", acrescenta, esclarecendo que outros fatores - a preparação ou o árbitro - podem influenciar.

No Brasileirão de 2018, as equipes que atuaram como mandantes ganharam 202 jogos, empataram 110 e perderam 68. No ano seguinte, ainda com a presença de torcedores, venceram 184, empataram 98 e perderam 98.

Já na temporada de 2020, encerrada na semana passada, dois meses depois do planejado devido à chegada do coronavírus, as equipes anfitriãs saíram vitoriosas 171 vezes, ficaram no empate em 108 ocasiões e acabaram derrotadas em 101 confrontos.

As tentativas de preencher o vazio nos estádios, fechados ao público nos três países desde março de 2020, com cartazes com fotos de torcedores instaladas nas arquibancadas ou com DJs tocando músicas de torcida, surtiram pouco efeito.

Jogar em casa não é o mesmo que sentir-se dono da casa. "Não é algo simples, é outro significado, outra importância e outra relevância. Os jogadores são motivados imediatamente [por serem anfitriões] e os adversários também sentem a pressão [da torcida]", diz Andrada Bandeira.

O ex-jogador de futebol Adolfo "Tren" Valencia, que atuou pela seleção da Colômbia e no alemão Bayern de Munique, lembra da motivação de jogar em estádios lotados.

"Eu, pelo menos, fui um dos jogadores que (...) quanto mais público eu via, mais jogava, porque isso me fascinava", diz.

Mas "tem alguns jogadores que, quando os estádios estão cheios, entram com medo, pressionados pelo o barulho do público, tudo isso afeta, e afeta muito".

E é que as pessoas precisam de motivações, que para os atletas podem vir de metas autoimpostas e do reconhecimento que recebem dos outros, explica Edwin Herazo, diretor do Grupo do Instituto de Pesquisa do Comportamento Humano da Colômbia.

"É provável que, ao reduzir o reforço ou a recompensa emocional que vem por estar diante de um público que anima um jogo, a parte motivacional durante a apresentação seja afetada", afirma.

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