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Sergio Moro, o ex-juiz que encarnava a luta contra a corrupção no governo Bolsonaro

O ex-juiz Sergio Moro, cuja renúncia do Ministério da Justiça priva o presidente Jair Bolsonaro de um de seus principais colaboradores, incorporava suas promessas eleitorais de combate à corrupção

AFP
24/04/2020 às 13:09.
Atualizado em 31/03/2022 às 01:46

O ex-juiz Sergio Moro, cuja renúncia do Ministério da Justiça priva o presidente Jair Bolsonaro de um de seus principais colaboradores, incorporava suas promessas eleitorais de combate à corrupção.

Moro, de 47 anos, ministro da Justiça e Segurança Pública desde a chegada de Bolsonaro ao poder em janeiro de 2019, anunciou sua renúncia depois que o presidente substituiu o chefe da Polícia Federal (PF), principal força de investigação judicial, subordinada à sua pasta.

"Não tenho como persistir com compromissos que assumi, sem condições de trabalho, sem ter como preservar autonomia da PF. Ou sendo forçado a sinalizar concordância com interferência politica na PF, cujos resultados são imprevisíveis", explicou Moro, em declaração à imprensa em Brasília.

O ex-magistrado, que durante anos comandou a maior operação anticorrupção da história do Brasil (Lava Jato) e enviou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a prisão, continua a ter grande popularidade, apesar de sua reputação ter sido manchada no ano passado pelo vazamento de mensagens que questionaram sua imparcialidade no processo do ex-mandatário.

Ele é o segundo ministro-chave a deixar o governo nas últimas semanas. O titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, caiu depois de insistir na necessidade de manter medidas de confinamento para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, contrariando a opinião de Bolsonaro.

Moro nasceu em agosto de 1972, em Maringá (Paraná). Em seu estado, formou-se em Direito e se tornou juiz em 1996. Doutor e professor universitário, completou sua formação em Harvard.

Fascinado por decifrar os caminhos do dinheiro sujo, acompanhou cuidadosamente a histórica operação "Mani Pulite" (Mãos Limpas), que desmantelou uma complexa rede de corrupção na década de 1990 na Itália.

Importando esse modelo para o Brasil, como juiz de primeira instância de Curitiba, ganhou notoriedade e prestígio: com a Operação Lava Jato, propôs-se a erradicar a corrupção na maior potência econômica da América Latina.

Desde 2014, a operação expôs uma vasta rede de propinas pagas por construtoras a políticos para obterem contratos com a estatal Petrobras.

As investigações levaram à condenação dezenas de políticos de praticamente todo o espectro ideológico e de grandes empresários.

Seu maior troféu foi Lula, a quem condenou por corrupção e lavagem de dinheiro e que foi preso em abril de 2018.

Mas, ao mesmo tempo em que seus aliados o definiam como um magistrado rápido para decidir, preparado e resoluto, seus detratores apontaram abusos no uso de prisões preventivas, das delações premiadas e no vazamento dos casos à imprensa para conquistar a opinião pública.

Sua incorporação às fileiras do governo também dividiu os brasileiros: enquanto alguns comemoraram a passagem de seu "herói" ao Executivo, outros interpretaram sua adesão como uma confirmação de suas intenções políticas.

Esse discurso foi reforçado em junho do ano passado, quando o portal The Intercept Brasil revelou supostas mensagens entre Moro e os promotores da Lava Jato, sugerindo certa intimidade entre as duas partes.

Isso colocou em xeque a imparcialidade de Moro em julgar Lula, que foi impedido de participar das eleições de 2018, devido à sua condenação.

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