INTERNACIONAL

Sérvia, laboratório da diplomacia chinesa das máscaras

Quando especialistas chineses desembarcaram na Sérvia, o presidente Aleksandar Vucic beijou a bandeira da República Popular da China e prometeu servi-la, tornando seu país um laboratório da diplomacia chinesa em torno do novo coronavírus

AFP
02/04/2020 às 09:06.
Atualizado em 31/03/2022 às 05:00

Quando especialistas chineses desembarcaram na Sérvia, o presidente Aleksandar Vucic beijou a bandeira da República Popular da China e prometeu servi-la, tornando seu país um laboratório da diplomacia chinesa em torno do novo coronavírus.

Generosa aos olhos de alguns, interesseira para outros, a "Rota da Seda da Saúde", promovida pelo presidente chinês, Xi Jinping, resultou no envio de milhões de máscaras em todo mundo, incluindo para alguns países extremamente afetados, como Espanha e Itália.

Na Sérvia, os especialistas vindos da China são os arquitetos de uma mudança de estratégia. O novo coronavírus foi identificado na China em dezembro, mas o gigante asiático parece estar a caminho de superar a crise, nascida na província de Hubei (centro).

"Os especialistas chineses foram os primeiros a derrotar o vírus. A partir de agora, faremos o que eles disserem", proclamou o presidente sérvio em 21 de março, quando os recebeu no aeroporto.

Candidata à adesão à União Europeia, a Sérvia não tinha outra solução a não ser contar com "os irmãos chineses", acrescentou Vucic.

Para evitar um cenário explosivo, como o da Itália, esse país dos Bálcãs que há muito explora a rivalidade do Ocidente e Oriente quer intensificar os testes na população.

O objetivo é realizar 7.000 testes diários para detectar os infectados pela COVID-19.

O Exército instalou milhares de leitos em um parque de Belgrado transformado em hospital de campanha, para acomodar em quarentena obrigatória aqueles com sintomas leves.

Outras estruturas intermediárias também estão sendo construídas para combater uma pandemia que, até o momento, infectou 1.000 pessoas e registrou pelo menos 20 óbitos.

Foram os médicos chineses que aconselharam Belgrado a parar de usar um hospital militar para casos graves, porque não era apropriado.

A Sérvia também implementa medidas cada vez mais coercitivas, contrastando fortemente com o tom informal inicialmente usado.

Vucic chegou a brincar ao dizer que tinha uma "desculpa" para beber mais rakija, o álcool de frutas mais vendido na região, ou riu com entusiasmo da piada de um pneumologista sobre um "vírus ridículo que existe no Facebook".

De fato, Pequim e Belgrado obtêm benefícios mútuos de sua "amizade pelo aço", apontam analistas.

Embora a China se apresente como um bom samaritano para fazer as pessoas esquecerem seu primeiro passo em falso diante da pandemia, a dramática encenação da ajuda chinesa permite que o chefe de Estado sérvio se mostre como "salvador da Sérvia", diz à AFP Majda Ruge, pesquisadora do Conselho Europeu de Relações Internacionais (ECFR).

A crise também dá a um presidente acusado de concentrar o poder e atacar a liberdade de expressão e da imprensa a oportunidade de "justificar sua grande afeição pela China", um país que não criticará "os aspectos altamente problemáticos de seu estilo de governo", acrescenta.

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