A reabertura dos seis shoppings centers na Região Metropolitana de Belém (RMB) levou milhares de pessoas à procura dos estabelecimentos, neste sábado, 6. Antes de abrir as portas, clientes se aglomeravam em longas filas do lado de fora, esperando dar meio-dia para entrarem. Mas o retorno às atividades não essenciais em meio à pandemia do coronavírus, decretado pelo Governo do Estado e pelas prefeituras de Belém e Ananindeua, fez com que a Justiça Estadual pedisse explicações às administrações sobre as condições do sistema de saúde público na capital, que justifique uma segurança à liberação. Os salões de beleza, clínicas de estética e barbearias também voltaram ao trabalho.
Apesar da intensa procura dos consumidores e dos registros de pontos de aglomeração, todos os estabelecimentos cumpriram regras de distanciamento social e de higiene. Os empreendimentos seguiram os protocolos da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), como a aferição de temperatura dos clientes à porta dos locais, limitação nos elevadores e espaçamento de três a quatro degraus nas escadas rolantes.
No shopping Pátio Belém, localizado no bairro da Batista Campos, por volta de 10h30, uma fila de consumidores se formava ao lado de fora do estabelecimento. O horário de reabertura estava marcado para meio-dia. Devido ao sol intenso, muitos se abrigaram embaixo de uma árvore na calçada. Para conter a aglomeração, a administração abriu as portas 30 minutos antes da hora prevista, porém, as lojas, só reabriram ao meio-dia. No empreendimento, a maior procura dos consumidores foi pelas lojas com serviços de telefonia. Elas, durante à tarde, registraram filas, na entrada. Procuradas pelo Estadão, as gerências não quiseram se manifestar.
A camareira Vanessa Rodrigues Mendonça, 37 anos, foi ao local para resgatar o número de seu celular. "Fui assaltada há duas semanas e já estava querendo resgatar o chip, mas tive que esperar o shopping abrir. Usava o mesmo número há muitos anos, então quero resolver logo, por isso vim na abertura. Cheguei 10h, e estava tranquilo, pouca gente, estão respeitando, está bem organizado. Mas depois os clientes foram chegando e aglomerou", disse.
A administradora de empresas, Rosana Alves, de 45 anos, também foi ao shopping. Ela chegou por volta das 16h30, quando já estava em pleno funcionamento. "Rapidamente, muitas fotos de filas circularam nas redes sociais. Fiquei com medo de vir, porém, preciso comprar um computador, pois a empresa adotou o home office e o meu deu problema", contou.
O shopping, que é um dos mais movimentados da capital - por estar na região central de Belém- , estima que neste retorno, haverá cerca de 62% de queda no índice de clientes dentro do empreendimento, e consequentemente, nas vendas, comparado ao mesmo mês do ano passado. Em relação ao tempo médio de permanência do consumidor em tempo de coronavírus, os números também são negativos. "Antes, os clientes ficavam cerca de uma hora e meia dentro dos shoppings, mas, com a pandemia, acreditamos que esse tempo reduza para 35 minutos", explicou Tony Bonna, superintendente do shopping.
Tony Bonna atribui a redução de permanência dos clientes, à suspensão dos serviços de entretenimentos, eventos, cinemas, academias e de todo o segmento de alimentação dentro dos empreendimentos. Além das lojas, estão autorizados a funcionar dentro dos shoppings, as agências bancárias, petshops, clínicas médicas, lavanderias e laboratórios. O shopping Pátio Belém também terá o quadro de funcionários reduzido com a crise econômica provocada pela covid-19.
"Algumas lojas já sinalizaram a descontinuação de contratos, outras, já fecharam. Ainda não temos um levantamento completo, mas, tínhamos 2,5 mil funcionários diretos, que durante a pandemia, tiveram contratos suspensos, ou foram desligados", adiantou o superintendente.
Ainda em Belém, o Boulevard Shopping, que fica no bairro do Reduto, a fila, por volta das 11h30, já chegava às vias do entorno. Centenas de clientes esperaram por mais de uma hora para entrar no local. Mesmo com o fluxo intenso na abertura, no decorrer da tarde, o movimento foi diminuindo. "A fila ficou grande porque na porta estavam verificando a temperatura das pessoas. Depois disso, as lojas ficaram vazias. Por ser um shopping mais elitizado, os frequentadores estão tendo um cuidado maior", explicou a empresária Neiva Oliveira Grecchi, dona de uma loja de confecção dentro do empreendimento.
Já o Shopping Castanheira, na BR-316, a aglomeração também foi grande para aguardar a liberação para entrada. As lojas de departamento estavam com maior demanda no local. Segundo a assessoria de imprensa, "a reabertura seguirá normas rígidas de higienização e sanitização, bem como o uso de máscaras por todos os nossos colaboradores"
O Bosque Grão Pará, na avenida Centenário, registrou um movimento tranquilo. A assessoria de comunicação informou que o retorno "terá um horário de funcionamento reduzido, das 12h às 20h, de segunda a domingo. A abertura das lojas será progressiva e por segmentos, seguindo as recomendações do Governo do Estado e Prefeitura de Belém".
Já o Parque Shopping, na avenida Augusto Montenegro, na Grande Belém, teve fila na entrada, e aos poucos, o fluxo nas lojas reduziu. Através da assessoria de imprensa, o shopping informou que a reabertura foi "em alinhamento às diretrizes dos órgãos competentes, e como forma de garantir uma operação zelosa, segura e adequada ao momento atual".
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) estima que os cinco shoppings de Belém reúnam 966 negócios. Juntos, os empreendimentos geravam 26 mil postos de trabalho. Com o fechamento, desde o dia 21 de março, a estimativa é de que cerca de 100 lojas decretem falência.
Ananindeua
A prefeitura da cidade vizinha também autorizou o retorno dos shoppings em Ananindeua. O Shopping Metrópole, localizado na BR-16, no km 4, registrou poucas filas e um movimento calmo durante a tarde de sábado. Para esta retomada, o gerente de marketing, Marcelo Reuters, diz que todos os protocolos de distanciamento e higiene foram seguidos. "O que queremos mostrar à sociedade é que nós temos condições de retornar as atividades com segurança para os clientes e lojistas", afirmou. O shopping caçula da Região Metropolitana conta com 170 operações, e acredita que este retorno será desafiador. "Ainda não temos os números totais de queda no faturamento e nem de lojas fechadas. A pandemia nos pegou de surpresa, e tudo está sendo muito novo", finalizou Marcelo Reuters.
Justiça
A liberação do retorno das atividades econômicas no Pará terá de ser explicada na justiça pelo governo do Estado e pela prefeitura de Belém até este domingo, 7. As administrações precisam se manifestar sobre uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) contra o plano de reabertura das atividades não essenciais, como os shoppings centers, salões de beleza e barbearias.
O prazo de manifestação do Estado foi estendido pelo juiz Raimundo Santana, da 5ª Vara da Fazenda e Tutelas Coletivas, após um pedido de dilação do Governo do Estado, por mais 24 horas. É que a primeira decisão da justiça determinava que a manifestações das administrações deveriam ser entregues até ao meio-dia deste sábado. A prorrogação será estendida ao município de Belém.
A promotora de justiça do Estado, Fabia Fornier, explica que o plano de reabertura das atividades econômicas dá à população a sensação de segurança quanto a não proliferação do novo coronavírus." Uma vez que o Estado e a Prefeitura liberam, as pessoas voltam às ruas, começam a fazer as velhas práticas de antes e ainda não temos uma garantia que a doença, de fato, está caindo. Com a liberação das atividades, as pessoas podem começar a ficar muito doentes novamente e colapsar o sistema de saúde", disse ao Estadão.
O pedido do MPPA e do MPT de que as medidas mais rígidas de isolamento social sejam adotadas novamente pelas administrações públicas, leva em consideração também o novo comportamento do vírus. "Começamos a ter índices maior no interior, que, por mais que tenham recebidos hospitais de campanha e reforço nos hospitais de referência, não vão comportar a demanda. Esses pacientes vão precisar se deslocar para Belém, e assim, contaminar mais pessoas na capital e termos um repique, com números mais expressivos que a primeira onda", observou a promotora.
O procurador do Trabalho, Sandoval Alves da Silva, que também assinou a ação contra o governo e a prefeitura, também questionou a retomada. "Temos um estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA), o qual não garante que seja a hora ideal para a reabertura. Não temos quantidade suficiente de leitos de UTIs e testes. Os números atualizados são incertos. Nem todo mundo que morre de covid é diagnosticado. Os profissionais da saúde estão morrendo. Trabalham em plantão de 12h. Isso é desumano", garantiu o procurador do MPT. Caso a decisão do juiz seja favorável ao Governo do Estado e a Prefeitura de Belém, os órgãos garantem que vão recorrer.
Em nota enviada ao Estadão, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) informa que irá apresentar manifestação e estudo que serviu de base para reabertura das atividades não essenciais dentro do prazo estipulado pela justiça.
Também por meio de nota, a prefeitura de Belém informou que o Comitê de Segurança Municipal, formado pela Ordem Pública, Guarda Municipal e Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (SeMOB), fiscalizou os shoppings de Belém, que reabriram às 12h deste sábado, 6, como parte do plano de retomada econômica do município. O objetivo da ação, segundo a nota, foi verificar se os estabelecimentos estavam cumprindo as medidas sanitárias e adequações necessárias para a reabertura. Dentre as exigências estão o distanciamento entre pessoas e uso obrigatório de máscaras e álcool em gel, para evitar a proliferação do novo Coronavírus na cidade.
A reabertura dos shopping centers e salões de beleza foi autorizada no decreto nº. 96.418/2020, publicado na última sexta-feira, 5, que altera o de nº 96.340, de 25 de maio de 2020, que dispõe sobre as medidas de distanciamento social controlado.
Casos
Até este sábado, o Pará já registra 53.176 casos e 3.612 mortes pela covid-19. Segundo o governo, há 653 leitos de UTI, com a disponibilidade de 78%.