INTERNACIONAL

Teatro ocupado em Paris para denunciar a 'cultura sacrificada' pela pandemia

Uma grande faixa com a inscrição "Cultura sacrificada" decora a fachada do Teatro Odéon em Paris, ocupado desde 4 de março por trabalhadores do mundo do entretenimento para denunciar a difícil situação do setor na França durante a pandemia

AFP
10/03/2021 às 09:55.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:02

Uma grande faixa com a inscrição "Cultura sacrificada" decora a fachada do Teatro Odéon em Paris, ocupado desde 4 de março por trabalhadores do mundo do entretenimento para denunciar a difícil situação do setor na França durante a pandemia.

Poltronas, telões e cortinas em cinemas e teatros acumulam poeira desde novembro. O setor teve apenas cinco meses de atividade após o confinamento da primavera (boreal), antes das novas restrições do outono.

Um ano depois das primeiras medidas do governo francês contra a pandemia, artistas, técnicos e funcionários do setor cultural ocupam o Teatro Odéon, um dos seis nacionais do país e localizado próximo aos Jardins de Luxemburgo, na margem esquerda do Sena, para reivindicar o seu "direito ao trabalho".

"É permitido viajar de trem em um espaço minúsculo, enquanto nós somos impedidos de trabalhar", reclama à AFP um dos ocupantes do teatro, o dramaturgo Emmanuel Meirieu.

As duas principais reivindicações dos manifestantes são a criação de um calendário para a reabertura dos espaços culturais e um "ano em branco" da lei trabalhista que regulamenta as contribuições dos trabalhadores do setor.

Na França, artistas e trabalhadores do entretenimento precisam trabalhar 507 horas por ano para receber seguro-desemprego para complementar seu salário.

O governo francês decretou em maio de 2020 um "ano em branco" (que terminará no final de agosto) para estender o auxílio a esses trabalhadores.

"Não estamos pedindo um favor, lutamos por todos os trabalhadores precários", como os da hotelaria e do turismo, também desempregados pelas restrições, explica Meirieu.

"Pedimos um ano em branco para todos", acrescenta uma ocupante do teatro, Val Massadian, cineasta.

Esta semana, outros três teatros foram ocupados na França pelas mesmas reivindicações.

De acordo com um estudo publicado em novembro pelo Ministério da Cultura, o setor reagrupa 670 mil trabalhadores na França e produz 47 bilhões de euros (56 bilhões de dólares), 2,3% da economia.

"Ensaios entre 14h e 23h, não entre na sala", diz um cartaz no hall do teatro.

Enquanto os ocupantes realizam assembleias e manifestações, o Odéon segue vivo e uma companhia externa a este movimento prepara uma peça dramática no salão principal.

E quando os ensaios terminam, os ocupantes do Odéon sobem ao palco com seus sacos de dormir e cobertores no chão. "Durmo muito bem", confessa Meirieu.

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