INTERNACIONAL

Tite, a 'esperança' dos técnicos brasileiros e do hexa da Seleção

Ele assumiu um time com o prestígio abalado e com estilo de atuação distante da lenda do "jogo bonito"

AFP
22/12/2020 às 09:09.
Atualizado em 24/03/2022 às 00:01

Ele assumiu um time com o prestígio abalado e com estilo de atuação distante da lenda do "jogo bonito". Mas agora Tite caminha a passos firmes com a Seleção Brasileira rumo à classificação para a Copa do Mundo de 2022, no Catar, e a cada partida aumenta o prestígio dos treinadores brasileiros, que há anos estão longe dos holofotes internacionais.

O Brasil chega ao fim de 2020 de forma perfeita. Venceu os quatro jogos que disputou e é líder isolado das eliminatórias sul-americanas para o Mundial no Catar, onde pretende conquistar sua sexta Copa do Mundo.

Os resultados foram conquistados com e sem Neymar, superando lesões que atingiram seus principais jogadores, afetados fisicamente por um calendário intenso devido à pandemia da covid-19 que se propagou pelo mundo.

À frente dos atletas, o rosto sereno e os cabelos brancos de Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, o arquiteto de um time ávido por se livrar do pesadelo da derrota por 7 a 1 para a Alemanha em 2014, que manchou o currículo do campeão mundial Felipão, e dos calafrios do futebol sem identidade que se seguiram à eliminação neste Mundial durante a segunda passagem de Dunga como técnico.

"A importância do Tite para a seleção brasileira é enorme. Ele é responsável por um processo de transformação de um grupo de ótimos jogadores", afirmou à AFP Gustavo Hofman, comentarista da ESPN.

A seleção de Tite foi construída em torno de uma ideia ofensiva coletiva e os resultados positivos surgiram na fase de classificação para 2022: vitórias sobre Uruguai, Peru, Venezuela e Bolívia sem repetir a mesma escalação.

"Desde a sua chegada, desde aquele 3 a 0 do Brasil sobre o Equador [em setembro de 2016], a seleção brasileira tornou-se uma equipe mais forte do que nos últimos anos, com organização tática, conceitos de jogo modernos, bons resultados", acrescentou Hofman.

O ex-volante de 59 anos tem um aproveitamento de 79% em 52 jogos como treinador da seleção, com 112 gols marcados e 19 sofridos. Desde que assumiu o cargo, foram 38 vitórias, 10 empates e quatro derrotas: três em amistosos e uma contra a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia-2018.

A evolução da equipe foi consolidada com a renovação de jogadores em posições sensíveis. Renan Lodi e Danilo assumiram as laterais que eram de Marcelo e Dani Alves; e Douglas Luiz emergiu como parceiro de Casemiro depois da saída de Fernandinho.

No gol, o Brasil se parece com a Alemanha, com três goleiros de reflexos felinos, Alisson, Ederson e Weverton. Marquinhos e o incansável Thiago Silva sabem de cor seus papéis na defesa. Gabriel Jesus, Everton, Firmino, Coutinho e Richarlison lutam por vagas com base em seus gols. E Neymar, sem lesões, honra a camisa 10.

"Ele é um pai para todos", disse Lodi no final de 2019, ano em que o Brasil fechou com resultados adversos após a conquista da Copa América, quebrando um jejum de 12 anos sem vencer o torneio continental.

O título, conquistado sem Neymar, amenizou a eliminação na Rússia. E foi o prêmio para um homem que conquistou o que estava ao seu alcance antes de ficar à frente da Seleção: Brasileirão, Libertadores, Sul-Americana, Recopa, Mundial de Clubes e campeonatos estaduais.

"O Brasil se acostumou a ser pentacampeão mundial e o treinador não é pressionado para ser campeão sul-americano", destaca Paulo Vinicius Coelho, comentarista do SporTV. No entanto, "Tite criou um repertório tático, uma variedade de táticas suficientes para tentar chegar à Copa do Mundo e tentar vencer", reflete.

O longo currículo vitorioso e o trabalho com a seleção nacional transformaram Tite numa espécie "defensor da honra" dos treinadores brasileiros, que há mais de uma década não encontram vagas entre os grandes clubes estrangeiros e seleções.

"Sempre houve talento, conhecimento prático, mas o Brasil parou um pouco em relação a outras escolas de formação de treinadores. Agora o país corre atrás do prejuízo", diz Hofman.

Desde que Luiz Felipe Scolari e Zico deixaram o Chelsea, Olympiakos ou CSKA Moscou no final da primeira década deste século, nenhum brasileiro conseguiu comandar um grande clube europeu.

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