INTERNACIONAL

Trabalhador de funerária na Flórida tem vida reduzida a lidar com mortos

Um assistente funerário na Flórida colocou sua vida em pausa, se relacionando apenas com as mortes por coronavírus que se acumulam na funerária onde ele trabalha

AFP
22/07/2020 às 14:05.
Atualizado em 25/03/2022 às 19:07

Um assistente funerário na Flórida colocou sua vida em pausa, se relacionando apenas com as mortes por coronavírus que se acumulam na funerária onde ele trabalha. Mas não se arrepende de seu isolamento, porque essa pandemia "é maior que nós".

"É difícil, mentalmente. Acredite. Sobre não ver minha família e meus amigos, eu entendo", diz Bradley Georges, assistente da Funerária Van Orsdel em Miami, sul da Flórida.

Com mais de 5.000 mortes no total e acumulando quase 10.000 novos casos todos os dias, um quarto deles na cidade de Miami, a Flórida é o novo epicentro do coronavírus nos Estados Unidos, juntamente com o Texas e o Arizona.

O contato de Georges com o vírus é tão próximo que ele não se aproxima da mãe há cinco meses. Ele se mudou para uma espécie de lavanderia nos fundos da casa que compartilha com o irmão e parou de ver todo mundo. Faz isso para mantê-los seguros, diz o homem de 26 anos.

"É meu dever servir aos outros e compreendo perfeitamente os tempos que estamos vivendo", ele insiste. "Não é sobre mim. Essa pandemia é maior que eu, é maior que todos nós".

A situação na Flórida é grave. Os hospitais estão ficando sem leitos, o antiviral remdevisir está em falta, as filas para os testes de COVID-19 são longas e os resultados levam até 10 dias para serem conhecidos, o que impede as pessoas de se isolarem a tempo de não infectar outras.

Como resultado, 25 a 30% mais mortes estão sendo relatadas do que o habitual em Miami, estima Donald Van Orsdel, dono da funerária que leva seu nome, a maior da cidade com cinco filiais.

Apesar desse aumento, as casas funerárias estão realizando menos funerais devido ao medo de contágio, e os membros da família geralmente optam pela simples cremação.

"Tivemos alguns funerais tradicionais, mas nada como costumavam ser", disse Van Orsdel à AFP.

Devido a atrasos nas licenças para cremar o falecido, o empresário está considerando "armazéns alternativos" porque suas unidades de refrigeração estão mantendo mais corpos.

Em Tampa, na costa oeste da Flórida, o necrotério foi equipado há dez dias com seis contêineres refrigerados para atender ao acúmulo de corpos. Miami fez algo semelhante em abril.

A Flórida, às vezes apelidada de "o estado mais cinzento" dos Estados Unidos, porque muitos idosos se aposentam ali atraídos pelo clima subtropical, tem uma concentração alarmante de pessoas no grupo com maior risco de sofrer o coronavírus.

Cerca de 20% da população tem mais de 65 anos, de acordo com um estudo do Population Reference Bureau de 2019.

Segundo Van Orsdel, a maioria dos mortos que chegam à funerária são idosos.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por