INTERNACIONAL

Três visões sobre o presente e o futuro do Pantanal

Entre janeiro e agosto de 2020, incêndios que saíram de controle devastaram mais de 12% do Pantanal, a maior área úmida tropical do planeta e o bioma brasileiro proporcionalmente mais preservado, localizado ao sul da Amazônia

AFP
24/09/2020 às 11:14.
Atualizado em 24/03/2022 às 12:04

Entre janeiro e agosto de 2020, incêndios que saíram de controle devastaram mais de 12% do Pantanal, a maior área úmida tropical do planeta e o bioma brasileiro proporcionalmente mais preservado, localizado ao sul da Amazônia.

Para entender como é possível prevenir novos desastres, a AFP ouviu três pessoas que atuam na região: um produtor agropecuário, um representante de uma ONG e uma acadêmica especialista em áreas alagáveis.

Os três participaram na semana passada de uma reunião entre moradores, legisladores e autoridades perto de Poconé (Mato Grosso). Uma iniciativa de convivência nem sempre fácil, em um momento em que o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em favor da abertura de áreas protegidas para atividades agropecuárias é criticado dentro e fora do Brasil.

Para João Gaiva, agrônomo e pecuarista em Mato Grosso, os incêndios acontecem, porque "engessaram o homem pantaneiro: não deixam que ele limpe a terra, com a ideia de que tirar o homem daqui é a solução".

"Tirando a gente daqui, a grama não para de crescer e se não houver animais para pastar, o fogo vai consumi-la", afirma.

"O homem pantaneiro é o guardião do Pantanal. Ele sempre viveu e produziu aqui, ele é a grande solução, podemos produzir animais com um selo de origem de qualidade", diz Gaiva, que defende dois projetos polêmicos por seus impactos ambientais: a instalação de um hidrovia do rio Paraguai-Paraná e a pavimentação da rota Transpantanera para reduzir os custos de produção e transporte nesta área de difícil acesso.

"Precisamos produzir alimentos bons e baratos. A solução é dar mais liberdade ao homem pantaneiro, para que o bioma seja administrado de forma sustentável. Não adianta bloquear uma parte da terra e transformá-la em reserva legal, que se torna um abismo, uma bomba-relógio", critica.

"O fogo sempre existiu e continuará existindo", defende. "Isso não é drama", diz ele sobre os incêndios.

"Ele veio para nos mostrar que o caminho certo é a presença do homem aqui", defende.

Leonardo Gomes é diretor de relações institucionais do Instituto SOS Pantanal, ONG que promove o diálogo e diversos projetos no bioma.

"O manejo do fogo no Pantanal é algo cultural. O homem pantaneiro aprendeu a usar o fogo, seja para renovar o solo, ou para iniciar um novo plantio para o gado. O que precisamos entender é como fazer esse manejo corretamente", explica à AFP.

"É preciso assessorar os produtores, não se trata de apontar para eles, ou culpá-los", acrescenta Gomes, que não acredita que afrouxar a regulamentação ambiental seja a solução e propõe discutir comunitariamente o manejo do fogo.

Ele destaca a necessidade de prevenir os incêndios ilegais (realizados sem autorização, ou nos momentos em que são expressamente proibidos) e montar brigadas comunitárias de resposta rápida para combater os focos quando eles surgirem.

"O bioma Pantanal está tão bem conservado porque esses atores locais aprenderam a conviver. Em um momento de radicalismo como o que estamos vivendo, precisamos sentar e debater", defende.

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