INTERNACIONAL

Um prefeito em tempos de guerra em Nagorno-Karabakh

De um escritório subterrâneo, com dois telefones fixos à sua frente, Misha Gyuryian, o prefeito de Martakert, administra esta cidade no nordeste de Nagorno-Karabakh, alvo constante de bombardeios desde o final de setembro

AFP
20/10/2020 às 11:16.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:05

De um escritório subterrâneo, com dois telefones fixos à sua frente, Misha Gyuryian, o prefeito de Martakert, administra esta cidade no nordeste de Nagorno-Karabakh, alvo constante de bombardeios desde o final de setembro.

Abandonada por seus 5.000 habitantes, a cidade de Martakert está localizada a cerca de dez quilômetros da linha de frente.

Na segunda-feira (19), pouco depois do meio-dia, o prefeito de 61 anos acompanhou jornalistas da AFP em uma visita ao vilarejo, uma cidade quase fantasma habitada por apenas um punhado de pessoas e alguns cães, gatos e porcos errantes.

Mais de 30% das casas de Martakert foram destruídas, de acordo com o prefeito. As forças do Azerbaijão "bombardeiam todos os dias. Portanto, é impossível contar os danos", diz.

Na manhã de segunda-feira, um foguete explodiu a parede de uma casa próxima a um cruzamento. Os restos da parede cobrem o asfalto. Não há sirenes de alerta sobre bombas.

"Porque não temos eletricidade. Cada vez que tentamos consertar, eles nos bombardeiam", explica o prefeito.

Em segundo plano, durante a visita à cidade, ouve-se disparos esporádicos contra o Azerbaijão vindos de posições próximas das forças separatistas armênias. Em um desvio, dois tanques de fabricação russa são avistados sorrateiramente estacionados, com alguns soldados ao redor.

Com boné preto e túnica camuflada que revela seu excesso de peso, o prefeito mostra uma casa destruída há quatro dias.

As telhas estão espalhadas por todo jardim. As paredes queimaram e estão parcialmente destruídas.

Um pouco mais adiante, Misha Gyuryián para em frente a sua casa, empoleirada em uma pequena estrada. A espaçosa casa térrea foi atingida por um projétil em 10 de outubro.

"Meu filho estava aqui, voltou do "front" para descansar. Mas conseguiu sair de casa antes do bombardeio aéreo", conta, enquanto fuma um cigarro após o outro.

Seus dois filhos foram para a guerra, e sua esposa está em Erevan, capital da Armênia.

As paredes da casa resistiram ao bombardeio, mas as janelas explodiram. No jardim, as árvores queimaram.

A visita continua, e as imagens se repetem. No jardim de outra casa em ruínas, as moscas enxameiam ao redor de um cachorro morto.

Gyuryián olha para o relógio: 14h30. "Má hora. Eles (azerbaijanos) podem começar a bombardear", diz ele, ao entrar no carro.

No centro da cidade, o prefeito se reúne com a equipe municipal, meia dúzia de homens vestidos com jaquetas camufladas, em um porão. Três salas modestamente mobiladas servem de escritório, quarto e cozinha.

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