Educação Metodista

Unimep tem nova missão com Plano de Recuperação Judicial

O reitor Ismael Forte Valentin conta que até se chegar a um plano de recuperação judicial foi um exercício de persistência e criatividade sem fim

Romualdo Cruz Filho
13/12/2022 às 08:09.
Atualizado em 13/12/2022 às 08:09

‘Pretendemos recuperar o cerne de nossa missão institucional, que é a educação’ (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

A notícia de que a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) ganhou uma nova chance para se reerguer, a partir do Plano de Recuperação Judicial do Grupo Metodista de Ensino – composta por 16 unidades educacionais instaladas predominantemente no Sul e Sudeste do país –, homologado pela Justiça no final da semana passada, trouxe uma nova esperança ao Instituto Educacional Piracicabano (IEP), mantenedor da instituição. A comparação que se faz é com um milagre ou com a imagem milenar de uma Fênix, ave mitológica que, em meio ao caos da destruição, se desperta, ergue a cabeça e se lança para um novo voo, como quem renasce das cinzas.

A imagem da destruição pode ser exemplificada em números. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a Unimep viu seus alunos debandarem em uma escala assustadora. Houve uma queda no número de matrículas de quase 90%, passando que cerca de 8.000 alunos para menos de 1.000. Em todo grupo metodista o drama é ainda mais expressivo. Cerca de 60.000 alunos deixaram as universidades da instituição, espalhadas em quatro estados do Brasil, no período. Quem acompanhou de perto o drama viu o esvaziamento da Unimep como um filme de ficção, em que a cidade vai ficando sombria, seus habitantes desaparecem e aos poucos temos apenas a ruína de um mundo que um dia alimentoutantas esperanças de amanhã sorridentes.

O reitor Ismael Forte Valentin conta que até se chegar a um plano de recuperação judicial foi um exercício de persistência e criatividade sem fim, uma vez que não havia uma legislação adequada no país para esse tipo de associação formatar uma proposta de superação de sua crise. Era um drama kafkiano.

“Ao fim e ao cabo, depois de tanto empenho, provocamos a criação de uma nova jurisprudência que deve beneficiar inclusive outras instituições do gênero que estejam nessa situação”, explica ele. Numa primeira instância o plano foi rejeitado, mas se recorreu ao processo e o tribunal considerou necessário um novo olhar para o problema, abrindo assim perspectivas positivas, uma vez que o Grupo Metodista de Ensino tinha patrimônio suficiente para lastrear o pagamento de toda a dívida existente, calculada de mais de R$ 500 milhões. 

Portanto, a crise em seu estágio máximo deixou uma dívida incontornável – aos moldes de negociação disponíveis – com funcionários, professores, prestadores de serviços, bancos, enfim, todos os credores do grupo, além de tributos estaduais e federais. Agora, com a aprovação do plano e a venda de aproximadamente 36 imóveis, todas essas dívidas começarão a ser pagas.

Segundo Forte Valentin vários imóveis já foram a leilão. O Campus da Unimep Santa Bárbara, como divulgado pela Gazeta recentemente, é apenas uma das fontes que começaram a irrigar o caixa. O conjunto foi vendido para a Fundação Hermínio Ometto por R$ 50 milhões, valor expressivo frente a uma estimativa de receita pelo complexo de R$ 63 milhões, o que é considerada uma ação exitosa. De imóveis de Piracicaba disponibilizados para este acordo estão também a Fazendinha, áreas improdutivas no arredor da Unimep Taquaral, o prédio da Escola de Música de Piracicaba (Empem), além da Casa de Hospedagem (rua Alferes José Caetano, 1327) e imóveis e terrenos da instituição na cidade de Lins, que também pertencem ao IEP. 

Única chance

O Plano de Recuperação Judicial tem um valor extremo para as instituições metodistas por se tratar de uma única porta que se abre para a sua sobrevivência. A metáfora da Fênix, portanto, do lead da matéria, não tem a menor chance de se repetir. Forte Valentin conta que a partir de agora os passos precisam ser dados com os pés no chão e todo o cuidado do mundo para não se cometer novos erros.

Os metodistas reconhecem que atuaram em campos fantasiosos, onde predominava o monopólio educacional, o que favorecia a Unimep. Após a abertura do mercado educacional, surgiram os programas de incentivos educacionais do período lulista, que criaram ilusões sobre fontes de receitas artificiais, que demorou muito para ser percebida como tal e levada em consideração enquanto fator ilusório. Até que a Unimep percebesse de fato que educação também é mercado, uma vez que seus serviços precisam ser pagos e quem os compra espera receber em troca uma formação qualificada, demorou um bocado.

Além da abertura do mercado educacional brasileiro de nível superior, iniciado pelo falecido professor Paulo Renato, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, que causou o primeiro impacto traumático às instituições em questão, que viviam em um cenário de privilégios, houve a fantasia do governo federal de financiar alunos carentes com bolsas de estudos, como se estivesse aí a boia salva-vidas para enfrentar a nova realidade, dura e competitiva. Mas eram boias furadas, que lançaram as instituições a um mar revolto e cheio de tubarões, só para usar uma nova figura de linguagem. Salvas pela ressaca (uma contradição necessária), passaram por longo período de prostração na areia da praia, até que a vida sinalizasse para a possibilidade de uma nova caminhada. É essa caminhada que precisa ser feita com segurança, até que o chão novamente fique firme para a edificação de uma nova fortaleza. Todos sabem que será um caminho longo e difícil, não mais impossível.

De volta à Fênix

Com essa perspectiva de demonstrar que a Fênix ergue sua cabeça para um novo voo é que está sendo organizado o vestibular deste ano da Unimep. São 23 cursos ofertados, das mais diversas áreas.

Trabalha-se neste momento com muita esperança de que o nome Unimep possa ser consolidado novamente, como uma marca de qualidade. Mas, com os pés no chão, espera-se para este primeiro teste, uma recuperação gradual. Forte Valentin acredita que seja possível ter pelo menos 500 novos alunos se matriculando para iniciar seus estudos em 2023. Sendo assim, é como se a instituição desse um salto de 50% em seu corpo discente.

Um movimento expressivo, se ocorrer de fato. Questionado sobre o cenário de competição com as outras instituições de ensino no mercado regional, o IEP está seguro de que o melhor caminho será o do meio. “Temos o nosso diferencial, não podemos deixar de reconhecer isso, mas precisamos ter um preço de mensalidade compatível com a realidade econômica da região. Fizemos esse estudo e acreditamos ter encontrado uma equação razoável, que vai nos permitir seguir adiante”, garante Forte Valentin. 

Sobre o vestibular

Estão abertas, portanto, as inscrições para o Vestibular 2023 da Unimep. São 23 cursos de graduação oferecidos nas unidades Taquaral (em Piracicaba) e Lins. As inscrições são gratuitas. No campus Taquaral, os cursos de graduação oferecidos são: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, Ciências Contábeis, Direito, Educação Física (bacharelado), Enfermagem, Engenharia de Produção, Farmácia, Fisioterapia, Formação Pedagógica em Matemática, Medicina Veterinária, Negócios Internacionais, Nutrição, Pedagogia, Psicologia, Publicidade e Propaganda, Sistemas de Informação e os cursos tecnólogos de Gastronomia, Gestão de Recursos Humanos e Logística. Todas as graduações são no período noturno. Já no campus Lins, os estudantes podem ingressar nos cursos de Direito e Odontologia (ambos no período noturno). A prova de redação ocorre no formato presencial e pode ser realizada no período de 240 minutos (4 horas). As provas são agendadas e realizadas em datas distintas até a finalização do processo seletivo. Os candidatos também podem se inscrever para o Vestibular 2023 da Unimep com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sem a realização da prova de redação. 

Empem

Sobre o prédio da Empem, há uma expectativa muito grande entre os metodistas de que ele não precise ser vendido, atendendo assim aos anseios da classe artística da cidade. Se isso ocorrer, a escola de música continuará no mesmo endereço. Mas não se trata de uma decisão do IEP e sim do mercado. A primeira chance é não haver procura pelo imóvel. A segunda é os recursos financeiros arrecadados pela venda dos demais imóveis serem suficientes para fazer frente a todos os compromissos assumidos. Aí a venda do prédio seria abortada. Mas caso o prédio seja vendido, a Empem terá outro endereço garantido, no complexo formado hoje pelo Colégio Piracicabano e Centro Cultural Martha Watts, no centro da cidade. Vale enfatizar que nem os prédios do Campus Taquaral, onde funciona a Unimep, nem os prédios do Colégio Piracicabano e Martha Whatts estão à venda, uma vez que eles são o core business do Plano de Recuperação Judicial. “Se chama Plano de Recuperação, porque pretendemos recuperar o cerne de nossa missão institucional, que é a educação”, sentencia Forte Valentin.

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