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Vacina contra tuberculose pode ajudar no combate ao coronavírus?

Poderia a boa e velha vacina BCG proteger os profissionais da saúde da COVID-19? Enquanto o desenvolvimento de uma vacina especificamente direcionada ao coronavírus ainda levará meses, vários estudos verificam os possíveis efeitos protetores da vacina contra a tuberculose

AFP
03/04/2020 às 11:18.
Atualizado em 31/03/2022 às 04:50

Poderia a boa e velha vacina BCG proteger os profissionais da saúde da COVID-19? Enquanto o desenvolvimento de uma vacina especificamente direcionada ao coronavírus ainda levará meses, vários estudos verificam os possíveis efeitos protetores da vacina contra a tuberculose.

"Sabemos há décadas que a BCG possui efeitos benéficos inespecíficos", ou seja, protege contra outras doenças além daquela para a qual foi criada, a tuberculose, explica à AFP Camille Locht, diretora de pesquisa do Inserm no Instituto Pasteur de Lille, França.

As crianças vacinadas com BCG sofrem menos de outras doenças respiratórias, além de ser usada no tratamento de certos tipos de câncer de bexiga e proteger contra asma e doenças autoimunes, como o diabetes tipo 1.

A hipótese é que a vacina contra a tuberculose possa ter um efeito semelhante contra o coronavírus, reduzindo o risco de infecção, ou limitando a gravidade dos sintomas.

Os profissionais da saúde são "o primeiro alvo a se beneficiar dessa abordagem", considera Camille Locht, que está finalizando o protocolo de um teste clínico para a França, porque estão entre "as pessoas com maior risco de desenvolver a doença" e devem ser protegidas primeiro.

Os pesquisadores continuam cautelosos, porém, antes de afirmar que a BCG tem um efeito protetor contra o coronavírus.

"Esta é precisamente a razão desta pesquisa", insiste Mihai Netea, professor de medicina experimental no Centro Médico da Universidade Radboud (Nijmegen), que anunciou há duas semanas o lançamento de um ensaio clínico com a Universidade de Utrecht, envolvendo 1.000 profissionais da saúde (500 receberão a vacina, e 500, um placebo).

"Se houver menos pessoas no grupo vacinado com BCG que tiverem que parar de trabalhar por causa da doença, será um resultado encorajador", acrescentou este renomado especialista em "imunidade treinada".

Esse conceito recente ilustra a descoberta de que nosso sistema imunológico adquirido (aquele que desenvolve anticorpos) não é o único com memória. Nosso sistema imunológico inato também pode estar preparado para combater os ataques, graças em particular a vacinas vivas atenuadas, como BCG ou sarampo.

No entanto, no caso da COVID-19, além da infecção pelo vírus, nas formas severas ocorre uma resposta imune excessiva, com a produção descontrolada de proteínas pró-inflamatórias, as citocinas.

"A vacinação, em particular contra a BCG, poderia ajudar a orquestrar melhor essa resposta imune inflamatória", explica Laurent Lagrost, diretor de pesquisa do Inserm, que trabalha nesses vínculos entre a inflamação e o sistema imunológico.

A vacina atua como um "exercício militar em tempos de paz" para "combater efetivamente o inimigo em tempos de guerra", disse na terça-feira, entrevistado pela BFMTV.

Na Austrália, uma equipe de pesquisadores do Instituto Murdoch de Melbourne também lançou um grande estudo, incluindo 4.000 profissionais da saúde em hospitais de todo país.

"Esperamos ver uma redução na frequência e gravidade dos sintomas da COVID-19 para os profissionais da saúde vacinados com a BCG", disse o líder da equipe, Nigel Curtis.

Na França, onde a BCG era obrigatória até 2007, "a maioria dos participantes do estudo já teve uma primeira vacinação", mas o efeito protetor diminui com o tempo, observa Camille Locht.

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