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Vaticano abre os arquivos sobre Pio XII, acusado de silêncio ante o Holocausto

O Vaticano revelará, na segunda-feira (2), os arquivos de Pio XII (1939-1958) aos pesquisadores, ansiosos para estudá-los e entender melhor um papa que permaneceu em silêncio durante o extermínio de seis milhões de judeus no Holocausto

AFP
01/03/2020 às 12:07.
Atualizado em 07/04/2022 às 09:04

O Vaticano revelará, na segunda-feira (2), os arquivos de Pio XII (1939-1958) aos pesquisadores, ansiosos para estudá-los e entender melhor um papa que permaneceu em silêncio durante o extermínio de seis milhões de judeus no Holocausto.

Duzentos especialistas se registraram para consultar uma montanha de documentos, acessíveis graças a um inventário que os arquivistas da Santa Sé levaram 14 anos para concluir.

O historiador alemão Hubert Wolf não perderá o compromisso em Roma, junto com seis assistentes. Durante a apresentação, esteve muito atento às indicações dos arquivistas e ficou encantado com a existência de documentos inexplorados de uma "secretaria privada" do papa.

Esse especialista na relação entre Pio XII e os nazistas seguirá outra pista: as notas escritas por 70 embaixadores do Vaticano, os olhos do papa no exterior. E os pedidos de ajuda de organizações judaicas ou mensagens trocadas com o presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt.

Os arquivos do longo período pós-guerra e da censura de escritores e padres inspirados pelo comunismo também serão abertos pela primeira vez.

Para a fase do Holocausto, o Vaticano já publicou o essencial há 40 anos, em 11 volumes compilados pelos jesuítas. Mas faltam peças, especialmente as respostas do papa.

"Quando o papa recebe um documento sobre os campos de concentração [já revelado nos volumes dos jesuítas], não temos a resposta. Ou ela não existe ou está no Vaticano", disse Hubert Wolf à AFP.

O historiador já examinou os doze anos de vida na Alemanha de Eugenio Pacelli, embaixador da Santa Sé (1917-1929) e testemunha da ascensão do nazismo. Mais tarde, voltou a Roma para se tornar a mão direita de seu antecessor, Pio XI, antes de ser eleito papa.

Os arquivos já revelaram que o pontífice recebeu alertas sobre o extermínio de judeus na Europa.

"Não há dúvida de que o papa estava consciente dos assassinatos de judeus, o que realmente nos interessa é quando ele soube pela primeira vez e quando acreditou", diz Hubert Wolf.

Em 24 de dezembro de 1942, durante sua longa mensagem de Natal, Pio XII menciona "centenas de milhares de pessoas que, sem nenhuma culpa, e às vezes pelo único motivo de sua nacionalidade ou raça, são condenadas à morte ou ao extermínio progressivo".

A mensagem foi transmitida em italiano uma vez, sem mencionar explicitamente os judeus ou os nazistas, mas "os católicos alemães ouviram e entenderam?"

"Os únicos que ouviram foram os nazistas", resume Wolf, porque havia interferência nas ondas de rádio e o papa poderia ter falado em alemão.

"Depois da guerra, Pio XII disse a um embaixador britânico "fui muito claro" e o embaixador respondeu "não o entendi"", destaca o historiador.

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