INTERNACIONAL

Violência doméstica, a outra epidemia em um Iraque confinado

A mãe de Malak, de 20 anos, pede morfina para a filha. Sob as ataduras está a mais recente vítima da "epidemia de violência doméstica" no Iraque, que foi agravada pelo confinamento

AFP
26/04/2020 às 12:08.
Atualizado em 31/03/2022 às 01:55

A mãe de Malak, de 20 anos, pede morfina para a filha. Sob as ataduras está a mais recente vítima da "epidemia de violência doméstica" no Iraque, que foi agravada pelo confinamento.

Nas últimas semanas, quando as famílias se trancaram em suas casas por ordem de um governo preocupado com a sobrecarga em seus hospitais por pacientes com COVID-19, ativistas e autoridades internacionais viram outro triste balanço crescer.

"Em uma semana, computamos o estupro de uma mulher com deficiência, violências conjugais, queimaduras, mutilações de mulheres vítimas de abusos, menores vítimas de abuso sexual e um suicídio, entre outros crimes", segundo agências da ONU que operam no Iraque.

Malak al Zubeidi "só queria receber a visita de sua família", conta à AFP Hana Edward, ativista pelos direitos das mulheres no Iraque há décadas.

Seu marido, um policial, a proibia há oito meses. Em 8 de abril, "movida pela emoção, [a mulher] ameaçou se incendiar". "O marido respondeu: "Vá em frente, faça", e ela fez", explica Edward.

"Ele a viu queimar por três minutos", continua a ONG Human Rights Watch (HRW), que cita a mãe de Malak. "E ele não a levou ao hospital até uma hora depois".

Dez dias depois, a mulher faleceu.

Desde o início do confinamento, a violência doméstica no país aumentou 30% - e até 50% em alguns lugares -, assegura à AFP o general Ghalib Atiya, chefe da seção de polícia responsável pelos assuntos de família.

Para Hana Edward, isso ocorre porque o confinamento deixou muitos chefes de família sem ocupação, e acima de tudo sem renda, e seus filhos sem escola.

"As pessoas ficam trancadas em casa por muitas horas e, às vezes, as coisas mais insignificantes levam a disputas que terminam em violência", diz.

Na província de Wassit, na fronteira leste com o Irã, um médico de 58 anos matou sua esposa porque ela não permitia que ele vendesse um terreno em seu nome, disse à AFP Sajjad Hussein, advogado de direitos humanos.

Em Samarra, norte de Bagdá, a imagem de uma menina de 10 anos de idade chorando comoveu nas redes sociais. Com os dois braços quebrados pelos golpes de seu pai, Saba implora: "Não quero ver meu pai, ele me bate todos os dias".

"Ele nos diz que é "para educar"", insiste sua mãe, divorciada.

Educar e punir são as palavras preferidas dos agressores. A lei não é clara em um país onde, segundo a ONU, 46% das mulheres casadas dizem ter sido vítimas de violência doméstica e um terço delas de violência física e sexual.

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