INTERNACIONAL

Violência provoca êxodo de ex-guerrilheiros que assinaram paz na Colômbia

Mais uma vez, Yerlis Ballesteros foge para não morrer. Quando criança, fez isso com a mãe. Agora é forçada a sair com seus dois filhos das montanhas da Colômbia, onde lutou antes de tentar viver em paz

AFP
20/07/2020 às 10:37.
Atualizado em 25/03/2022 às 19:54

Mais uma vez, Yerlis Ballesteros foge para não morrer. Quando criança, fez isso com a mãe. Agora é forçada a sair com seus dois filhos das montanhas da Colômbia, onde lutou antes de tentar viver em paz.

No entanto, a violência que financia o narcotráfico arruinou seus planos e os de seus ex-colegas na guerrilha dissolvida das FARC.

Na quarta-feira passada, 93 ex-rebeldes e familiares fizeram uma viagem sem volta em plena pandemia, depois de 12 assassinatos nos últimos quatro anos.

"O copo transbordou. Não podemos mais resistir", diz esta mulher de 32 anos.

Eles deixaram para trás o vilarejo situado no alto de Ituango, no departamento de Antioquia (noroeste), onde primeiro lutaram e depois se tornaram pessoas de paz.

Em uma caravana de veículos escoltada pela força pública, partiram para Mutatá, também em Antioquia, mas a centenas de quilômetros de distância, no primeiro êxodo coletivo enfrentado por ex-guerrilheiros que assinaram a paz em 2016.

Agradeceram aos vizinhos, carregaram seus animais em caminhões e se despediram sem abraços, devido ao novo coronavírus, antes de pegar a estrada.

Foi uma jornada de desenraizamento e tristeza que durou 23 horas e que os levou a terras estranhas, onde ex-companheiros de armas os receberão como deslocados.

Yerlis Ballesteros sofreu deslocamento forçado pela primeira vez quando muito nova. Mal se lembra do que aconteceu com sua mãe e dois irmãos para salvar suas vidas.

Quando adolescente, ingressou nas FARC. Combateu durante 12 anos na guerrilha, que enfrentava o Estado colombiano desde 1964, em um conflito feroz que mais tarde envolveu paramilitares de extrema direita e também forçou centenas de milhares de camponeses a fugirem.

Os responsáveis da rebelião armada devem prestar contas à justiça da paz por esse e por outros crimes graves.

Por causa do conflito, mais de oito milhões de pessoas foram forçadas a deixar seus locais de origem desde 1985, segundo o registro oficial de vítimas.

E, no caso dos ex-guerrilheiros de Ituango, a história do desenraizamento se repete.

John Taborda tinha cinco anos quando os paramilitares fizeram sua família fugir.

"Perdemos absolutamente tudo", conta. Ele lutou ao lado da insurgência, assinou a paz e, hoje, aos 27 anos, tem de começar "do zero" novamente.

"Confiamos na boa-fé do governo que teríamos condições, mecanismos de proteção e segurança (...) E é um pouco frustrante ter que aceitar que isso não é possível", acrescenta.

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