INTERNACIONAL

Vitória de Arce devolve alegria a simpatizantes de Evo Morales na Bolívia

Depois de mortes e violência política em 2019, a alegria voltou ao bairro boliviano de Senkata com a vitória de Luis Arce, o herdeiro político de seu amado Evo Morales

AFP
20/10/2020 às 14:05.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:09

Depois de mortes e violência política em 2019, a alegria voltou ao bairro boliviano de Senkata com a vitória de Luis Arce, o herdeiro político de seu amado Evo Morales.

"Valeu a pena todo o sofrimento", disse José Mamani à AFP.

Há quase um ano, José e seus vizinhos saíram para protestar em Senkata, na cidade de El Alto, vizinha de La Paz, contra a anulação - por alegações de fraude - das eleições nas quais Morales havia sido reeleito para um quarto mandato. Foram reprimidos pela polícia em frente a uma fábrica de combustíveis, resultando em uma dúzia de mortos e várias dezenas de feridos.

"Me sinto feliz", diz José, emocionado. Junto com ele, seus "camaradas de luta" celebram com música, danças e bandeiras azuis (símbolo de Arce) a vitória eleitoral de domingo, que devolve o poder ao Movimento ao Socialismo (MAS) de Morales.

Como este comerciante de 34 anos de cabelo cor de cobre, muitos misturam a alegria da vitória com as lembranças da repressão durante os violentos protestos de novembro de 2019 em Senkata, no distrito 8 desta cidade fiel a Morales, localizada a 4.100 metros de altura.

"Neste bairro choramos, sofremos, passamos dias sem comer, a coca e água", lembra José com o rosto ao sol do altiplano, rodeado por uma cordilheira nevada. "Foi muito doloroso o que aconteceu, [a polícia] chutando mulheres de saias, camponesas, foi assim que a presidente interina de direita Janine Áñez chegou ao poder", disse à AFP Ricardo Saavedra, um estudante de 23 anos.

Organizações de direitos humanos denunciaram o governo Áñez pelo uso excessivo da força durante os protestos, que deixaram mais de 30 mortos e 800 feridos no país, segundo a ONU.

Quase um ano depois, José agarrou sua bandeira Wiphala (símbolo dos povos indígenas), comprou fogos de artifício e saiu para as mesmas ruas onde um dia houve luto para festejar, dançar e gritar "Jallalla [viva] Distrito 8".

"Essa luta não é por dinheiro, sei que não terei um cargo no governo. Luto pelo bem dos meus filhos, porque quero dar a eles um bom futuro", diz José.

Em sua camisa azul, lê-se "voltamos e somos milhões", junto com os rostos de Arce e de seu vice-presidente David Choquehuanca, de origem aimará como Morales.

O distrito 8 de El Alto tem uma tradição de luta. Seus vizinhos se rebelaram na chamada "Guerra do Gás" de 2003, que deixou 60 mortos e levou à queda do presidente conservador Gonzalo Sánchez de Lozada.

O ex-ministro da Economia de Morales, Arce varreu as pesquisas ao vencer no primeiro turno com uma vantagem de 20 pontos sobre o centrista Carlos Mesa.

"Vencemos a direita, vencemos no seu campo", exclama Ricardo. Ele diz que ficou surpreso com a retumbante vitória do economista de 57 anos, que chocou mais de um terço do país.

A festa também comemora a deputada eleita de MAS Sabina Condori, com saia elegante e a tradicional mantilha.

Eles acham que Arce devolverá a prosperidade dos 14 anos de governo de Morales, em um momento em que a Bolívia polarizada vive uma de suas piores crises econômicas, agravada pela pandemia do coronavírus.

Com Arce como ministro e Morales como presidente, a Bolívia quadruplicou seu PIB e reduziu a pobreza de 60% para 37%.

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